Sei que o assunto de segunda tela pode estar meio cansativo. O grande boom do tema foi nos dois últimos anos, com o lançamento do aplicativo IntoNow! e do livro Social TV, além do surgimento de diversos projetos que exploravam o conceito. No Brasil, os serviços Wing e Klug TV deram as caras no mercado.
Entretanto, vale comentar a aquisição que o Twitter fez nesta semana. O serviço de microblogging adquiriu a Bluefin Labs, desenvolvedora de uma plataforma que mensura o burburinho que um programa de TV causa nas redes sociais. A empresa é responsável por fornecer relatórios de audiência online para diversas marcas e emissoras de TV.
O negócio está avaliado em US$ 100 milhões. É a maior aquisição feita pelo Twitter. Pelo visto, vale o valor, pois, com a compra, o serviço de microblogging se aproximará ainda mais do mercado de TV, onde justamente está a maior parte do bolo publicitário. É natural que depois de se assumir como uma plataforma de conteúdo, o Twitter corra atrás de onde está o dinheiro (mercado de TV).
Tive a oportunidade de conhecer o pessoal da Bluefin Labs no MIT. A empresa, que nasceu dentro do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, começou a partir de um estudo de linguagem natural e grandes bases de dados (machine learning).
Deb Roy, pesquisador do MIT e cofundador da Bluefin Labs, queria entender como o seu filho aprendia novas palavras. Para isso, tentou gravar todos os sons que o seu filho fazia. Roy criou algoritmos que detectassem os padrões comuns nestes sons e a semântica das frases ditas pelo filho (o pesquisador é pioneiro no uso de métodos baseados em dados para a análise de comportamento social e modelagem de linguagem humana).
Os algoritmos criados por Roy foram adaptados e são utilizados até hoje na solução que a Bluefin Labs fornece ao mercado.
A Bluefin Labs é um exemplo de 3 coisas:
1) O quanto a inovação está se descentralizando nos EUA. A Bluefin não é uma empresa do Vale do Silício, mas da região de Boston.
2) Importância do diálogo entre mercado e academia. A Bluefin surgiu como um trabalho de pesquisa do MIT, com o objetivo de fazer os computadores entenderem a linguagem humana. Logo, tornou-se uma solução para o mercado de TV, que tinha dificuldade de mensurar a repercussão online de seus produtos.
3) A solução da Bluefin faz parte de um movimento de novas ferramentas de mensuração da audiência online. Um exemplo dessa movimentação é o Piwik, que se posiciona como uma alternativa ao onipresente Google Analytics.
A respeito do conceito de segunda tela, repito o de sempre. É preciso ir com um pé à frente e outro atrás. Segunda tela não é um “conceito fechado”, falta muito o que pesquisar, ainda existem muitos questionamentos, como, por exemplo, sobre quem é a primeira e a segunda tela. Muitas vezes, ao contrário do senso comum, os dispositivos móveis são a primeira e a TV, a segunda tela.
Outra questão é onde e quando aplicar o conceito. A ideia de utilizar os dispositivos móveis como segunda tela cai muito bem durante a transmissão de eventos esportivos e de entretenimento.
Porém, durante a transmissão de filmes e de outros produtos que necessitem uma imersão maior, os dispositivos móveis mais causam distração do que engajam o usuário. Ou seja, a relação entre TV e internet passa a ser de perde-ganha. Enquanto que o conceito de segunda tela tem o objetivo contrário. A relação TV e internet deve ser sempre de ganha-ganha.

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