1) Regulamentação da internet
O ano de 2012 será lembrado por um crescimento do movimento para regulamentar a internet, principalmente em relação ao uso de dados dos usuários. Evolução esta mais do que natural. Historicamente, as plataformas de comunicação e distribuição de informação nascem sem restrições e limites, para, depois com a maturidade, sofrerem regulamentações.
A propósito, são duas coisas que andam paralelas – quanto mais dados sobre os nossos rastros digitais e biométricos são coletados, quanto mais atividades têm como base a rede (entretenimento, pagamentos, comunicação, compras, saúde, educação, segurança), maior o movimento para a regulamentação da internet.
Esse movimento se reflete no Brasil com os recentes debates sobre o Marco Civil da Internet. Nos EUA, neste ano, o governo federal apresentou a “Consumer Data Bill of Rights“, proposta de lei que define diretrizes claras a respeito de como as empresas de internet podem utilizar os dados de seus usuários. O documento dará mais poder aos usuários de internet.
O movimento de regulamentação da internet promete trazer mudanças para os novos negócios. A maioria das empresas que conhecemos (Google, Facebook, Amazon) se acostumaram a crescer e a fazer negócios em um mercado desregulamentado e sem restrições. Como elas passarão a agir em um mercado regulamentado? Como serão os novos negócios na internet, uma plataforma que caminha para a regulamentação, principalmente em relação ao uso de dados?
2) Crowdfunding mostrou para que veio (Kickstarter)
O escritor Tim O’Reilly estava certo quando no começo de 2012 disse que o site de crowdfunding Kickstarter seria a empresa de tecnologia mais importante do ano.
Em 2012, o Kickstarter virou o mais agitado mercado de ideias na web. Não é sem motivos que o site passou a ser monitorado pelo setor de inteligência de mercado de diversas empresas.
O Kickstarter mostrou que o conceito de crowdfunding é viável. Com o seu modelo de “vaquinha virtual”, o site forneceu uma base financeira e moral para que diversas outros movimentos de inovação acontecessem em 2012, como o das startups de “hardware inteligente” e de biohacking.
De quebra, o Kickstarter questionou o papel dos tradicionais investidores de risco. Muitos dos projetos que estão no Kickstarter foram anteriormente rejeitados ou estavam totalmente fora do radar de investidores acostumados a trabalhar com startups, como Twitter, Zynga, Groupon.
3) Crescimento das plataformas mobile de mensagens instantâneas
WhatsApp foi o serviço digital que mais se destacou em 2012. Segundo números oficiais, o Whatsapp já conta com 250 milhões de usuários, sendo que, por dia, mais de 1 bilhão de mensagens são enviadas por meio do aplicativo.
O aplicativo multiplataforma de mensagens não esteve sozinho – Viber, Talk.to e Nimbuzz são outros que ganharam destaque. Todos surgiram com a pretensão de substituir o SMS. Entretanto, ao caírem nas mãos dos usuários, acabaram se tornando emergentes plataformas de rede social e de comunicação.
O movimento mostra para onde caminham as plataformas de redes sociais – mobile, mensagens instantâneas, redes menores, mas com laços mais fortes.
Pode ser também o começo de uma possível e esperada mudança no digital – das plataformas de redes sociais com funcionalidades de comunicação (Facebook) para plataformas de comunicação com funcionalidades sociais (WhatsApp).
4) Engenharia de memória
“Memory Engineering” é um dos campos das ciências da computação que mais cresceu e gerou burburinho em 2012. Projetada para lidar com a atual avalanche de informações, a “Engenharia da memória” busca tornar mais intuitiva a forma como acessamos e recuperamos na memória dados sobre nossas vidas.
Timehop é um exemplo bem simples disso. O serviço conecta-se ao seu Foursquare, Twitter, Facebook e, a cada dia, envia um email com informações sobre o que você estava fazendo há exatamente um ano. É lógico que isso já está evoluindo para coisas maiores, sobretudo no campo da medicina, na digitalização de prontuários médicos e na mesclagem de dados biométricos.
É uma área de estudos que promete crescer ainda mais e se tornar mais multidisciplinar. Bem provável também que outras áreas comecem a beber no campo da “Engenharia da memória”, como as de jornalismo e de publicidade.
5) Uma demanda de se extrair algo mais profundo do digital
Palestrantes pedindo para ninguém tuitar durante as apresentações, o sucesso de livros como Vertigo e Net Smart, que questionam premissas até então inquestionáveis sobre a vida digital, a humanização da Big Data, o redescobrimento das vantagens de estar desconectado. Acredito que tudo isso faz parte de um mesmo movimento que esteve presente em 2012 – um desejo de se extrair algo mais profundo dos ambientes digitais.
A partir dos cursos e das diversas conferências que participei nos últimos meses, percebo que chegamos a um ponto em que as pessoas estão questionando – “Mas o digital é somente isso?”. A última capa de 2012 da revista Technology Review, publicação do MIT, é bem emblemática a respeito disso (imagem acima).
Acredito que 2012 mostrou que a mudança não é mais do analógico para o digital, mas do digital para o digital. Uma nova forma de ver o digital. Mais humanizada. Algo que vai muito além de “likes” e da simples e fácil satisfação própria. Enfim, o digital como facilitador de uma vida realmente melhor.
Para se ter uma ideia, uma das plataformas digitais mais comentadas neste ano nos EUA é a NextDoor, que incentiva os vizinhos a trocarem informações, criando assim uma comunidade mais ativa, colaborativa e com laços mais fortes.
Espero que essa última tendência continue em 2013. A história das tecnologias mostra que nós, seres humanos, temos uma capacidade de extrair uma quantidade quase infinita de aplicações das ferramentas que nos são dadas.
Ou seja, sempre podemos ir muito além do que nos é oferecido ou criado por nós mesmos.





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