Desconecte-se do Twitter e desligue o celular, por favor!

Um novo comportamento chamou a minha atenção nas últimas conferências que participei nos EUA. Talvez essa atitude chegue um dia ao Brasil.

Cada vez mais, mediadores de eventos e painelistas estão pedindo para que a plateia desligue os celulares e não fique tuitando durante as palestras. O mote “escute primeiro, escreva depois” ganha espaço.

É irônico isso acontecer. Os palestrantes e organizadores dos eventos eram, até então, os primeiros a incentivar que a audiência usasse “hashtags” específicas e publicasse tweets de forma frenética durante os painéis de uma conferência.

Motivos não faltam para essa nova atitude. O primeiro deles – entre pesquisadores americanos, o consenso cada vez mais comum é de que a ideia de multitarefa é um mito. Ao contrário dos computadores, nós, humanos, não temos a capacidade de executar diversas atividades simultaneamente. Na realidade, o que temos é a habilidade de mudar rapidamente de uma para outra atividade.

Logo, quanto mais rapidamente nos descolamos de uma atividade a outra (tuitar e prestar atenção no palestrante), pior será o nosso desempenho ao processar as informações, posto que o nosso esforço mental será maior.

O outro motivo é mais comportamental. Estar conectado tem múltiplas vantagens – acesso rápido a informações e pessoas. Entretanto, cada vez mais, estamos redescobrindo as vantagens de estar desconectado – maior capacidade de refletir por conta própria, de não pensar somente no presente (em tempo real) e de não se preocupar com a plateia que nos cerca na internet.

Algumas empresas americanas já promovem os chamados “períodos de desconexão“, momentos em que não é permitido enviar/checar emails nem se comunicar com o colega de baia por mensagens eletrônicas. A comunicação deve ser face a face.

Desconectar-se, em algum momento, é a nova ordem.

Até há algum tempo, um executivo que falasse que estava o tempo todo “estressado” e não tinha mais “tempo para a família e o lazer” era visto como um profissional produtivo, moderno, dedicado. Hoje a imagem é justamente contrária. O executivo que a todo momento está “estressado” é visto como uma pessoa com pouco equilíbrio, que não consegue se auto-organizar e dar devido valor e peso a diversos aspectos, como os da vida pessoal, familiar e profissional.

Acredito que o mesmo acontecerá com a pessoa que não consegue se desconectar e dar o devido valor às vantagens de estar desplugado. Como assim, você não consegue se desconectar? Não consegue administrar o tempo para você mesmo? A tecnologia manda em você?

Não acho ruim que tudo isso aconteça. Pelo contrário. É o sinal do começo de um novo comportamento em relação ao digital. Parece que depois de nos lambuzarmos com diversas tecnologias, estamos agora colocando algumas delas em seu devido lugar.

20 respostas para “Desconecte-se do Twitter e desligue o celular, por favor!”.

  1. Tiago, venho sentindo esta necessidade e minha esposa também. E ela é pior que eu pois trabalha em um gigante da tecnologia. Pouco mais de 1 mês atras estabelecemos um limite para celular em nosso horário em casa e vem ajudando.

    p.s: Estou achando a fonte do blog um pouco grande demais, especialmente no iPad.

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    1. Oi Douglas,

      Vou dar uma olhadinha aqui nas fontes, talvez seja algum problema nas configurações.

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      1. Mais um ótimo post, parabéns…

        Eu nunca fui multitarefa e por muitas vezes me criticaram por assumir isso. Acredito que se concentrar em fazer uma tarefa por vez tem um resultado de maior qualidade. A cultura multitarefa resulta em muitas coisas malfeitas, e interpretações superficiais.

        Não são raras as vezes que vejo comentários em matérias no Facebook de pessoas que nem se deram ao trabalho de abrir o link, simplesmente leram o título como se isso bastasse.

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  2. Perfeito o Post

    Não só em conferências ou trabalho, mas no próprio lazer as pessoas não conseguem ficar desconectadas.
    Estão assistindo a um filme no cinema, mas estão mexendo no facebook. Estão em um bar com os amigos, estão mandando SMS sem parar para alguem em vez de aproveitar os amigos e outras pessoas.
    E fazemos isso como se fosse normal, e não é. Estão esquecendo de viver a vida para viver dentro deste universo virtual que deveria ser somente um complemento as relações, e não a principal forma de se relacionar.

    Um dos melhores posts sobre comportamento que vi neste blog. Meus parabens.

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  3. O culto tresloucado à eficiência e à velocidade tem inúmeras facetas e consequências. Temos o aumento do estresse, a superficialidade e precipitação nas relações humanas, a baixa qualidade das mesmas, a dificuldade de manter o foco em algo por muito tempo, certa inabilidade no trato social, pouco uso da reflexão etc..

    No post, é brilhantemente abordada a falta de autocontrole, a incapacidade de se “desplugar” ou se desconectar, de manter a atenção no que realmente importa (“escute primeiro, escreva depois”) ou de ficar, sem culpas, “à toa”.

    Não posso deixar de comentar que, além dos números irreais de “amigos”, duas coisas que, pessoalmente, (ainda) me causam muita estranheza nessa febre (pensando, em especial, no Facebook) são a superexposição e como se difunde, apenas e praticamente, piadinhas e vídeos engraçadinhos. E não se vai muito além disso mesmo.

    Todo mundo quer expor tudo a respeito de si o tempo inteiro, muitas vezes sem bom senso, critério, cautela e cuidado. Todos querem ter opinião e dar palpite sobre tudo, muitas vezes deixando a gentileza, a sutileza e a boa educação de lado. E nada escapa a um senso de humor (?) não raro grosseiro. Sei lá, mas acho que falta um certo espírito de contenção, de pudor e de discrição. Aquela velha e boa noção do que é público, privado e íntimo; a distinção entre o que pode e o que não deve ser dito.

    Nessa opressiva e irritante cultura em que “temos” que ser sempre extrovertidos, “autênticos” e “sinceros”, todo mundo quer ser palco, jamais plateia.

    Parabéns pelo post.

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    1. Interessante, Gustavo. Isso que você comentou – cultura em que “temos” que ser sempre extrovertidos – vai ao encontro de um livro que comentei por aqui: “O poder do silêncio e dos introvertidos” http://www.tiagodoria.com.br/coluna/2012/02/13/o-poder-do-silencio-e-dos-introvertidos/

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  4. adorei o post. Trabalho em uma startup e passo 9 hs por dia trabalhando na frente do computador
    no começo deste ano estive em terapia por “uma angústia que vinha sabe deus de onde”.
    O tratamento se resumia em fazer coisas diferentes, novas e onde eu não fosse
    ser observada e nem julgada.
    Tricô, cozinha e academia entraram no meu dia a dia. Tudo para passar menos horas conectada. Vai totalmente de encontro com o que vc transmite aqui.

    Adorei o novo blog. A fonte tá um pouco grande mesmo, mas é bem limpo de ler.
    saudações e um abraço,
    Isabela.

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  5. […] e dar os devidos ‘pesos’ à vida familiar e profissional. Veja o texto completo no blog do Tiago Dória. /* […]

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  6. Estou lendo um livro meio exagerado “Trabalhe 4 horas por semana”, mas ele fala coisas bem interessantes sobre administração do tempo. Ele só checa o e-mail uma vez por semana, abandonou o consumo descontrolado de informação e outras coisas parecidas.

    Algumas dicas estou aplicando e já me sinto bem melhor.

    Valeu pelo post Tiago, e não demore muito a escrever outros não tá. Gosto muito dos seus textos.

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  7. Tiago, já há algum tempo venho acompanhando o seu blog e sempre gosto muito do que encontro por aqui. O cuidado com o texto, a variedade de fontes, os temas abordados, a sua capacidade de análise e a apresentação de novidades.

    Agradeço pelo empenho com que mantém o blog, e que faz com que nós, leitores, nos sintamos presenteados a cada post. Obrigada.

    Escrevi um post comentando este seu texto no Blog Livros e Afins. Ele deve sair esta semana, se interessar a leitura.

    Um abraço

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  8. […] esse artigo do Tiago Dória, sobre a inversão de valores no campo profissional: aquele que “se diz muito ocupado” […]

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  9. […] por água abaixo. Pessoas são pessoas, com virtudes e pecados até mesmo na internet. Segundo este ótimo post de Tiago Dória (leia, vale a pena),  outro mito está indo ralo abaixo: o da multitarefa. Mais uma vez vale […]

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  10. […] Ps.: Convido-os a ler o texto completo do Tiago Dória que inspirou este texto: Desconecte-se do Twitter e desligue o celular, por favor! […]

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  11. Muito bom o post, eu aposto que o futuro seja este mesmo, as pessoas se desconectando cada vez mais, e usando a rede para consumir informação e fazer compras. O lado social da internet tende cada vez mais a ser como um mural de recados, onde ficará marcado encontros entre amigos e eventos (live).

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  12. Não tenho Twitter, nem Facebook, nem Orkut. Já tive, mas cancelei todos. Para mim era tudo inutilidade. Recebi o link do seu blog por e-mail, e digo que concordo com suas colocações.

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  13. […] em algumas destas questões que me deparei com um artigo muito interessante do Tiago Dória (aqui), sobre a tendência crescente nos EUA dos indivíduos permanecerem desconectados durante eventos, […]

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  14. […] também um excelente modelo de negócio quando bem aplicado. Ma s que pode também trazer prejuízos à medida em que essa ideia de se fazer inúmeras tarefas ao mesmo tempo e com a mesma qualidade é […]

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  15. Na adolescência (há unas 30 anos… rsrs), me divertia mandando cartas com arte, cartas cheias de bossa… Depois no corre-corre da vida, as correspondências foram miando, ate o surgimento do maravilhoso E-MAIL. Ele é a medida certa para comunicação entre as pessoas. Mais do que isso (MSN, tweets, faces, etc) para mim é excesso escravizador. Valeu!

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  16. […] e a real necessidade de estarmos 100% conectados durante o dia inteiro, anteriormente em um artigo do Tiago Dóriae, mais recentemente em uma entrevista com o ex editor da Wired britânica, David Baker, de onde […]

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