O filtro do filtro do Facebook e do Twitter

Se entre os pesquisadores existe um crescente consenso sobre o atual overload informativo, esse consentimento é de que a solução para o problema passa muito mais pelo comportamental do que pelo tecnológico.

Faz sentido. Twitter e Facebook, por exemplo, passaram de solução tecnológica a problema no tocante ao excesso de informação. Tanto que o Facebook foi obrigado a criar um filtro do filtro – recurso que mostra quais mensagens são mais relevantes na linha do tempo da plataforma de rede social.

O escritor Howard Rheingold, em seu novo livro Net Smart, cita que são necessárias 5 habilidades para sobreviver online – inteligência de rede, atenção, participação, colaboração e capacidade de filtrar informação (detector de bobagem). Essa última habilidade é essencial para lidar com o atual volume de informação – saber qual site merece ser visitado, qual texto vale a pena ler, qual email merece mais atenção. O tempo todo na web estamos tomando microdecisões, que, cada vez mais, exigem um senso crítico de quem está conectado.

Eli Pariser, autor de Filtro Invisível, acredita que, do mesmo modo que, para acabar com o sobrepeso, devemos mudar os nossos hábitos alimentares, para lidar com o atual overload informativo, precisamos mudar o modo como consumimos mídia. Devemos consumir mídia de forma menos compulsiva, adotando uma dieta saudável de informação. A solução é, acima de tudo, comportamental.

Por isso, chama a atenção como Twitter e Facebook vêm tentando encontrar soluções para lidar com a própria avalanche de informações que ajudaram a criar.

O Facebook começou a testar o Highlight, recurso pago que destaca uma mensagem na linha do tempo da plataforma de rede social. A funcionalidade surgiu depois da constatação de que, em média, somente 12% dos contatos de uma pessoa leem uma mensagem publicada no Facebook. É tanta informação querendo atenção que, no final das contas, nenhuma ganha foco suficiente na plataforma de rede social.

Por sua vez, o Twitter anunciou o lançamento de uma newsletter que, semanalmente, enviará para a caixa de email um “resumo dos tweets mais relevantes e compartilhados por seus contatos no Twitter”.

Ou seja, é outro filtro do filtro. De certo modo, bem no início, o Facebook tentou fazer o mesmo com o EdgeRank, algoritmo que destaca na linha do tempo do usuário quais mensagens e conteúdos mais relevantes os seus amigos compartilharam na plataforma de rede social.

Será interessante ver como o Twitter e o Facebook irão operar com os novos recursos. Dependendo de como for implementado, o Highlight pode prejudicar ainda mais a experiência de usar o Facebook, modificando completamente a própria noção de relevância da plataforma de rede social. Na prática, o Highlight é uma forma artificial de tornar uma mensagem relevante. Quem paga mais será mais relevante na linha do tempo no Facebook.

Já o algoritmo da newsletter do Twitter terá que ser muito bem amarrado para identificar realmente o que é interessante para as pessoas. Caso contrário, os dois recursos, tanto o do Facebook como o do Twitter, correm o risco de ser mais um ruído em nossas caixas de email e linha do tempo, contribuindo ainda mais para o volume desproporcional de informações que recebemos todo dia.

Veja também: Twitter: plataforma de conteúdo ou utilitário de comunicação?

Crédito da foto: Stephend9

3 respostas para “O filtro do filtro do Facebook e do Twitter”.

  1. […] É o blog do Tiago Dória, que é jornalista e pesquisador de mídia. Só para ter uma ideia, no último post, ele fala dos filtros que estão sendo adotados pelo Facebook e agora pelo Twitter para colocar em […]

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  2. O que me incomoda muito no Facebook é terem tirado a opção de remover o filtro do feed de notícias. Se eu quiser receber todas as atualizações de todos os meus contatos, preciso visitar os perfis de cada um deles e habilitar o recebimento de tudo. Baita sacanagem.

    []’s!

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  3. o que me preocupa eh que a maioria dos algoritmos interpreta o que é mais importante basicamente pelo número de cliques (RT, curtir, comment, link)…ou seja, estamos cada vez mais suscetíveis a absorver o que é senso comum…e isso acaba nos bitolando.

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