O escritor Tim O’Reilly não estava errado quando afirmou que o site de crowdfunding Kickstarter seria a empresa de tecnologia mais importante desde o Facebook. Somente neste ano, a empresa espera arrecadar US$ 300 milhões, o triplo de 2011, para financiar os projetos cadastrados no site.
Segundo números do próprio Kickstarter, grande parte desse valor vai para projetos independentes relacionados a filmes, música e design, áreas que conseguem arrecadar mais fundos entre os financiadores do site.
O Kickstarter tem uma lógica simples. É um site de crowdfunding. Você cadastra um projeto, que é avaliado pelo site. Caso seja aprovado, o projeto vai ao ar e as pessoas podem financiá-lo no esquema de vaquinha, em pequenas quantias. Aos pouquinhos, a intenção é chegar a um valor que permita ao mesmo sair do papel.
Atualmente, 46% dos projetos cadastrados no Kickstarter conseguem atingir essa arrecadação desejada.
Por seu potencial de mudar a comercialização de novas tecnologias, a Technology Review, publicação do MIT, rotulou o Kickstarter como uma das 10 coisas mais importantes no último ano.
Vejo muitas coisas interessantes no site que justificam o burburinho.
Os seus efeitos vão muito além do crowdfunding.
1) Hardware “inteligente”
O Kickstarter está causando disrupção em uma área que até então não havia tocada efetivamente pela internet – a de hardware. Uma crescente cultura de startups de hardware está sendo criada em torno do site. E o mais interessante – formada por startups e inventores que trabalham de modo diferente com o hardware – acrescentando “inteligência” e fazendo web, dispositivos e objetos físicos conversarem.
Dois exemplos recentes.
O pessoal do Twine criou um aparelho que vem com sensores embutidos, permitindo detectar mudanças de temperatura e vibrações em um ambiente e enviar mensagens via SMS ou Twitter. Com o Twine, é possível monitorar quase tudo. Você pode configurá-lo para que ele envie um email quando alguém bater na porta da sua casa ou a máquina de lavar terminar de limpar as roupas.
O Pebble, relógio inteligente de pulso, por sua vez, conversa com smartphones e programas de emails. Quando chega um email, uma mensagem no Facebook ou no Twitter, o relógio exibe uma notificação na tela. O projeto conta com aplicativos que podem ser instalados, permitindo personalizar o relógio.
2) Vídeo como principal linguagem
Textos e os powerpoints (tradicionais em apresentações de startups a investidores) ficam em segundo plano no Kickstarter – 80% dos projetos utilizam vídeo para apresentar suas ideias. O vídeo não é simplesmente um complemento ao texto, mas o principal artifício para “viralizar” algumas ideias.
3) Questionamento dos tradicionais meios de obter investimento
No cenário atual, os investidores de capital de risco têm um papel importantíssimo, mas vale pensar um pouco. Muitos dos projetos que estão no Kickstarter foram anteriormente rejeitados ou estavam totalmente fora do radar de investidores acostumados a trabalhar com startups, como Twitter, Zynga, Flipboard. O burburinho atual de investimentos é na área de aplicativos, poucos querem arriscar-se com hardware.
O Pebble, por exemplo, foi rejeitado por ser considerado uma ideia arriscada.
O próprio gerenciamento do site é um pouco diferente. Quando teve que lidar com o aumento do volume de projetos e, ao mesmo tempo, manter o padrão de qualidade apresentado, o Kickstarter não recorreu a barreiras de entrada, mas à ideia de curadoria digital. Organizações, como Creative Commons, New York University e GOOD Magazine, ganharam páginas nas quais indicam os projetos com as melhores ideias.
Meio estranho falar isso, mas o Kickstarter me lembra muito a experiência de utilizar a Wikipedia. É a diversidade que chama a atenção. Você periga passar horas navegando pelo site. Caindo de projeto em projeto. Não é à toa que o site é monitorado pelo setor de inteligência de diversas empresas de mídia e de tecnologia. Afinal, o Kickstarter está virando o mais agitado mercado de ideias na web.
Veja também: Documentário brasileiro sobre “vaquinha virtual”

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