Demoraram, mas começaram a aparecer as primeiras matérias relatando que ler livros num tablet não é uma atividade tão prazerosa quanto se esperava.
O problema não está na tela brilhante, mas na dispersão que o dispositivo permite – notificações pipocam na tela e botões para checar emails e Facebook estão a um clique de distância.
Segundo o americano David Myers, entrevistado em reportagem do NYTimes, ler um livro no tablet é como tentar cozinhar num ambiente cheio de crianças.
O problema abre oportunidade para e-readers como o Kindle, que têm como característica justamente ser monotarefa, evitando, desse modo, a fragmentação da atenção do leitor.
Segundo o Pew Research Center, o número de americanos que compraram os dois tipos de dispositivos – tablets e e-readers – quase dobrou entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012.
Ademais, estudo da Forrester mostra que, em um ano, o número de publishers que acredita que os tablets são ideais para leitura de livros caiu de 46 para 31%.
Como leitor assíduo de livros, é quase impossível não concordar com a tese da matéria do NYTimes. Realmente, tablets não são ideais para a leitura de livros. Neste ponto, o Kindle sai na frente.
Além da tela fosca, o principal atrativo do e-reader da Amazon é exatamente fazer uma única coisa: não ser multitarefa. O que não causa nenhuma surpresa. A graça de ler um livro (seja digital ou analógico) sempre foi justamente o silêncio, o fato de ser uma atividade concentrada e solitária.
Em uma cultura que valoriza a extroversão, o barulho e a dispersão, a leitura de um livro adquire um aspecto ainda mais especial. Funciona como um contraponto, uma pausa – um momento de introversão, concentração e silêncio.
Para o escritor de cultura digital Steven Johnson, existe mais um aspecto – ao contrário do senso comum, a atividade de ler um livro é cada vez mais linear e menos dispersa. Num livro físico, você pode folhear as páginas, zapear pelo livro e ter uma noção da estrutura, argumentos e escrita do autor. Já no digital, num e-reader, essa atividade é bem mais difícil de ser realizada.
Enfim, é aquela questão comum na área de gadgets. Tablets e e-readers (monotarefa) são dois tipos de dispositivos capazes de realizar a mesma atividade – permitir a leitura de livros digitais. Mas onde é mais conveniente? Pelo visto, onde a dispersão for menor.
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