No livro Wharton on Managing Emerging Technologies, o estrategista Don S Doering bate na tecla de que, em tempos de disrupção, umas das coisas mais cruciais e, ao mesmo tempo, difíceis é identificar uma tecnologia emergente no mercado. Pequenos sinais são dados pelo mercado.
Na área de mídia, é meio difícil identificar esses sinais, principalmente por ser uma indústria que muitas vezes vive sob o “efeito manada”, um começa e o resto vai atrás sem muito saber o motivo.
Geralmente, o que é apontado como futuro é apenas uma moda passageira.
A BBC lançou em versão beta a sua nova home. Mais do que uma mudança coméstica, a nova home promete apontar para tendências futuras, além de ser reflexo de mudanças na forma como as pessoas interagem com conteúdo na web. Três modificações são interessantes de observar.
1) Menos é mais
Na nova home, a BBC reduziu, de forma intencional, o número de chamadas para canais e editorias do site.
Interfaces minimalistas e elegantes fazem mais sentido numa época de “overload informativo”, em que as pessoas buscam clareza, concisão e contexto (Steven Rosenbaum comentou sobre isso durante o Digital Age 2.0).
2) Interfaces mobile e web mais integradas.
Uma tendência cada vez mais comum é que as empresas mesclem ainda mais a sua visão mobile com a desktop. Com isso, as interfaces mobile e desktop ficam mais homogêneas.
A gente viu isso acontecer recentemente na área de sistemas operacionais, com o lançamento do Lion, da Apple, e a apresentação do Windows 8, da Microsoft. Diversos elementos da interface mobile foram trazidos para o desktop.
O mesmo está acontecendo na área de mídia. A nova home da BBC é reflexo dessa tendência.
A interface é toda baseada em “swiping”, bem comum em interfaces touchscreen. Você mexe nos elementos como se estivesse virando uma página no iPad.
Ao trazer elementos do mobile para o desktop, o objetivo é proporcionar uma experiência mais unificada em todos os dispositivos.
3) Filtros e não customização
Segundo a BBC, menos de 1/3 dos usuários utilizava as funcionalidades de customização da antiga home. Desses que usavam as funções, personalizavam a exibição das informações de acordo com a localidade, ao alterar a cidade de origem de acesso.
O uso de filtros tem se mostrado mais eficiente do que a personalização da home. As pessoas têm a opção de filtrar os assuntos de acordo com os seus interesses (uso de palavras-chaves). Para a BBC, as pessoas querem filtrar e não customizar o conteúdo.
A home faz parte da nova estratégia da BBC ‘one service, ten products, four screens‘ revelada em junho (slides logo abaixo)
A nova estratégia revela o fim de uma crise de identidade na BBC. Por algum tempo, o grupo de mídia se autoquestionou a respeito de qual seria o seu papel no atual ecossistema de informações, formado por players como Google e Facebook.
A BBC (re)descobriu que o seu diferencial é contar histórias. Ninguém faz isso melhor do que ela no mercado. A internet, na visão da BBC, trouxe a possibilidade de contar histórias conectando audiência, dispositivos e editorial.
Referência nos estudos de tecnologias emergentes, C.K. Prahalad, falecido professor da Universidade de Michigan, dizia que, em tempos de disrupção tecnológica, é crucial que uma empresa descubra e fique focada em sua “competência central”. Ou seja, no que ela faz de melhor e é aplicável a diversos mercados e produtos.
Pelo visto, a BBC (re)encontrou a sua competência – contar histórias – e ainda lançou uma nova home que pode apontar para alguns caminhos comuns na área de consumo de conteúdo na web.
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