Não percebemos, mas podemos controlar o futuro

Em tempos de rápidos avanços tecnológicos e de transformação da Lei de Moore em um mantra, parece que o futuro está pré-determinado. Como se fossem vítimas do futuro, pessoas e empresas não têm muito o que fazer a não ser esperá-lo e tentar se adaptar a ele.

Ledo engano. Temos mais poder do que imaginamos. A internet e outras recentes tecnologias de telecomunicações deram mais liberdade para que cada vez mais controlemos o nosso futuro. O futuro existe para ser projetado.

Na realidade, o futuro determina o presente. A partir da visão que temos do futuro fazemos as nossas escolhas no presente. Se mudamos a nossa expectativa sobre o futuro, alteramos a maneira como hoje tomamos decisões. Por isso, a importância de sempre termos uma visão sobre o futuro.

Por exemplo, se temos a ideia de, no futuro, trabalhar e morar em Paris, desde já isso nos impulsionará a fazer certas escolhas – aprimorar-se nas aulas de francês, economizar dinheiro, procurar pessoas que tenham contatos na capital francesa. Ou seja, a partir do momento em que você tem a visão, já está controlando e projetando o seu futuro. Ele não é tão determinado quanto parece.

O mesmo se aplica a empresas de tecnologias, startups, por exemplo. Ao ter a concepção de que, no futuro, uma startup será a maior plataforma de rede social do mundo, desde hoje, essa ideia influenciará certas decisões – contratar os melhores engenheiros, investir mais em pesquisa e desenvolvimento, gerar mais dados a partir das ações dos usuários.

Essa noção de que podemos projetar e controlar o futuro e não simplesmente prevê-lo parece óbvia, mas nem todo mundo a coloca em prática, afirma o futurista Thomas Frey (foto acima), diretor do Da Vinci Institute, no livro “Communicating with the future” (Editora CGXPublishing/126 páginas).

Segundo Frey, cada vez mais, é importante termos uma visão sobre o futuro, principalmente pelo fato de estarmos passando pelo que é chamado de “Maximum Freud“, período de interseção de tecnologias e caos no qual devemos fazer uma autoanálise para entender o que realmente está acontecendo.

Engenheiro durante 15 anos na IBM, o futurista acredita que os grandes visionários tinham uma percepção muito clara sobre o futuro, sabiam que podiam projetá-lo. Ao fazerem isso, conseguiam não somente dar um sentido a mais às suas vidas, mas também às das pessoas ao seu redor.

Nos anos 90, programadores trabalhavam na Microsoft não por que ela pagava bem, mas sim para estarem ao lado de Bill Gates. Ou seja, as pessoas gostavam de se sentir envolvidas em um objetivo maior. A Microsoft estava construindo o futuro. Os desenvolvedores sentiam que o seu trabalho tinham um relevante impacto social.

O que, no final das contas, se mostrou verdadeiro. A empresa construiu a estrada para que depois viessem empresas como Google e Facebook.

Empresas de tecnologia constantemente colocam protótipos em campo como forma de construir o futuro e influenciar o mercado. Ao colocar um protótipo no mercado, tornam o futuro mais tátil.

Segundo o futurista, uma das coisas mais importantes ao dialogar com o futuro é gerar um “attractor“. Um “attractor” pode influenciar e modelar o futuro. Ele surge quando uma ideia futurista passa a ser aceita e a se autoperpetuar.

Leonard Da Vinci foi uma pessoa que criou um “attractor” ao elaborar o conceito de voar. Ela usava a arte para registrar a sua visão sobre o futuro. Muito antes de inventarem os balões de ar e os aviões, o artista dedicou 500 das suas gravuras ao conceito de voar.

As visões de Da Vinci sobre o futuro serviram como inspiração para milhares de inventores que tentaram construir máquinas voadoras.

Neste sentido, é importante divulgar a sua visão sobre o futuro. Quanto mais uma ideia for divulgada, inevitavelmente ficaremos mais familiarizados com ela (neste ponto, a internet ajuda bastante em projetarmos o nosso futuro).

Hoje, por exemplo, a ideia de termos chips implantados no corpo para o tratamento de doenças nos parece bem menos estranha do que há 30 anos.

Porém, esse movimento de antever e controlar o futuro pode ser nocivo se cairmos no erro de achar que tudo é maleável. É preciso ter em mente que algumas coisas são constantes. Normalmente, são situações por trás do que o mercado costuma chamar de “tendências”.

As leis da física, por exemplo, não serão alteradas tão cedo. Aliás, todas as tecnologias mais recentes respeitam a lógica das leis da Física.

Revolucionária mesmo será a tecnologia que subverter tais leis.

A Lei de Moore continuará com os seus efeitos – o número de componentes nos chips dobra a cada 18 meses. Ou seja, todos os aparelhos que têm chips tendem a ficar mais baratos e cada vez melhores (o cientista Michio Kaku tem uma visão diferente de Frey, pois acredita que a Lei de Moore é falha, uma hora não será mais possível dobrar a quantidade de componentes em um chip, o que levará todo o modelo do Vale do Silício ao colapso).

Outra constante é que pequenas ações continuarão a ter grandes efeitos, hoje e sempre (efeito borboleta).

O telefone surgiu por que Graham Bell queria se comunicar melhor com a sua namorada, que era surda. O simples desejo de querer conversar melhor com a namorada abriu uma torrente de inovação na área de comunicação.

O Dropbox foi desenvolvido porque Drew Houston, criador do serviço de armazenamento, notou, durante uma aula na universidade, ter esquecido o seu pendrive em casa. Ou seja, esse fato singelo abriu uma série de mudanças na indústria de armazenamento de dados digitais (confesso que aposentei os meus pendrives depois que passei a usar o Dropbox).

O plástico, uma das tecnologias mais presentes no nosso dia a dia, surgiu a partir da necessidade de ter bolas de sinuca mais baratas. Anteriormente, as bolas eram feitas a partir dos dentes dos elefantes, o que as tornava caras.

Mais uma constante é a inevitável mudança na sociedade em consequência da velocidade do acesso à informação.

Há 10 anos, para encontrar uma resposta a uma pergunta, uma pessoa, em média, necessitaria de 10 horas até achá-la – teria que pegar um carro e ir até a biblioteca mais próxima para encontrar a resposta. Hoje, com o advento da internet, a mesma pessoa gasta 10 minutos para encontrar a mesma informação na web. A tendência é que isso não pare e, daqui a alguns anos, serão necessários apenas 10 segundos, 10 milésimos de segundo e por aí vai.

O que pode criar a falsa impressão de que temos mais conhecimento. Ter acesso mais rápido a informações não quer dizer necessariamente que sabemos o que fazer com elas. Informação existe em abundância. Conhecimento ainda é escasso.

Segundo Frey, o que precisamos ter em mente é que tudo o que existe entre nós e uma informação está sendo destruído. É uma tendência histórica.

Esse culto à velocidade (time compression) estaria criando um novo tipo de trabalhador (work class hero). Foi-se o tempo do executivo de uma companhia só.

Hoje é comum o profissional independente que anda de projeto em projeto, num fluxo constante de criatividade e desafios. Ele escolhe o projeto que quer trabalhar não tanto pelos ganhos financeiros, mas pelo quanto o projeto se alinha à sua personalidade e ao seu estilo de vida.

Hoje, em média, uma pessoa de 30 anos nos EUA, já passou por 11 empregos diferentes. Em apenas 10 anos, ela já terá passado de 200 a 300 projetos diferentes.

Com essa rotatividade, a marca e a reputação individuais se mostram cada vez mais importantes. A cada novo projeto, ele põe a sua reputação em jogo. Enfim, é um profissional mais individualista, preocupado com a sua própria trajetória/aventura profissional.

Por isso, na visão de Frey, os freelancers precisam ser respeitados. Eles estão produzindo impactos na “cultura corporativa” bem maiores do que imaginamos.

Além de compilar algumas das principais ideias de Thomas Frey, “Communicating with the future” é um livro que mistura tecnologia, negócios e filosofia. Na realidade, é um chamado do futurista para que tenhamos uma posição menos passiva em relação ao futuro.

Os últimos avanços criaram um certo “determinismo tecnológico” de achar que o futuro está pronto e distante. O futuro, na realidade, é criado na mente das pessoas.

Nós não devemos simplesmente planejar e esperar pelo futuro, mas sim projetá-lo. Nossos desejos, antecipações e esperanças emitem sinais poderosos que podem influenciar e ser direcionados. Temos uma capacidade de auto influenciar e de influenciar os outros bem maior do que imaginamos.

Uma visão futurista tem uma capacidade muito grande de modificar tudo o que ela toca (cria desejos, necessidades e mercados). Podemos transformar o futuro em oportunidade.

Deixe a bola de cristal de lado (afinal de contas, não servem para nada) e projete o futuro, assim você dará um sentido a mais não somente a você, mas aos outros, convoca Frey.

A lição, no final das contas, vale tanto para startups quanto para as pessoas.

Não precisamos mais nos ver como vítimas do futuro.

Veja também: Como é ser pai de Bill Gates

11 respostas para “Não percebemos, mas podemos controlar o futuro”.

  1. Tiago,

    incrível! “Na realidade, o futuro determina o presente”

    Parabéns Tiago, texto inspirador.

    Att.

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  2. Belo texto. e gostei do link sobre a validade da lei de moore. abs

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  3. Avatar de RRodrigo Bernardes Ribeiro
    RRodrigo Bernardes Ribeiro

    Boa Tardes excelente post e ideias que me prenderam a atenção até o fim. Todos que buscamos uma trajetoria profissional relevante e que nos dê orgulho devemos ter em mente que as relaçoes entre profissional e empresa esta mudando e que devemos cultivar a nossa marca pessoal.

    Parabens,

    Rodrigo Bernardes

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  4. […] também: Não percebemos, mas podemos controlar o futuro Enviar por […]

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  5. Avatar de Gustavo Timm de Oliveira
    Gustavo Timm de Oliveira

    Inspirador mesmo, Tiago 😀

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  6. “Ele escolhe o projeto que quer trabalhar não tanto pelos ganhos financeiros, mas pelo quanto o projeto se alinha à sua personalidade e ao seu estilo de vida.”

    Estou sentindo isso na pele agora. Tenho 20 anos, Já estou no meu 6º estágio, já fui contratado uma vez, faço faculdade e ainda trabalho num projeto pessoal entre amigos.

    Parabéns pelo post. Realmente Inspirador.

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  7. […] para o futuro sempre deve ser um ato de otimismo, mas não dá para negar que esses vídeos mostram mais como gostaríamos que fosse o presente do […]

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  8. Muito bom o texto, Thiago!
    Também falo um pouco sobre imaginar/criar o futuro e profeciais auto-realizáveis no meu blog: http://marcosmalagris.com/imaginar-o-futuro-e-criar-o-futuro

    Abraços

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  9. Gostei muito do texto…
    Hoje em dia vemos que o futuro não é mais algo que aconteçe por acaso, sem perceber, e sim planejável… empresas traçam metas de 30 anos… pessoas fazem detalhadamente o que farão…
    Tudo indica que ao passo da evolução nos tornaremos não autores de nossas vidas e sim meros espectadores…

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