Google+ e Facebook prometem jogar xadrez

Faz 5 dias que foi lançado o Google+, quarta tentativa da Google entrar, de forma mais efetiva, no “mercado de plataformas de redes sociais”. Diferente das tentativas anteriores, essa parece ter interessado bem mais aos chamados “early adopters“.

Pelo que deu para perceber, dois recursos do Google+ agradaram gregos e troianos.

Primeiro, o Hangouts, recurso de videochat bem simples e que funciona no próprio navegador, sem a necessidade de instalar aplicativos (acredito que a Google poderia até ter lançado o Hangouts como produto separado).

E o segundo, o “Circles“, que, sem necessidade de reciprocidade na hora de adicionar uma pessoa, permite organizar os contatos na rede social. Por meio dele, o usuário pode compartilhar informações com quem quiser – apenas o círculo composto de amigos, de familiares ou somente de conhecidos.

Chama a atenção o fato de o Facebook já permitir isso. É possível separar em “listas” amigos, familiares e conhecidos e, dessa forma, enviar mensagens personalizadas para cada uma. O problema é a complicação em fazer isso.

Com o “Circles“, a Google fez o mesmo que as “listas” do Facebook, porém em uma interface bem mais intuitiva (por aí a gente vê o quanto a interface pode ser um diferencial em um projeto de internet).

Aliás, se a gente for vasculhar o baú, o Pownce, falecida rede de micrologs que pretendia concorrer com o Twitter em 2007, permitia organizar os amigos em conjuntos e dessa forma visualizar e enviar informações específicas para cada grupo de contatos.

Com o lançamento do Google+, fica claro que o Gmail é um produto importante para a Google. O Google+ não é uma rede social criada do nada. Na realidade, ao entrar no Google+,  somos induzidos a construir a nossa rede a partir da lista de contatos já existente no Gmail.

Talvez a Google leve em conta que nossos emails têm informações valiosas sobre as nossas interações sociais. Caixas de entrada e de saída de emails indicam quem está em contato, quando e com qual frequência – têm dados valiosos, inseridos diariamente de forma passiva, e que podem ser utilizados para formar redes.

Não que isso seja ruim, mas a impressão que passa para quem está do lado de fora é que o Google+ foi criado de cima para baixo – a diretoria tomou a decisão e o produto foi feito para atender a uma necessidade da empresa. Ou seja, o Google+ parece ser um pouco diferente de outros produtos da Google, os quais, geralmente, nascem de baixo para cima, os engenheiros criam os produtos e depois os levam até a diretoria.

Neste sentido, apesar da empresa de busca negar publicamente, o Google+ parece ser uma óbvia resposta ao crescimento mundial do Facebook.

Não é de hoje que Google e Facebook passaram a ser vistas como empresas concorrentes, apesar de tratarem informações de formas tão diferentes.

Para definir a relevância de uma informação, a Google leva em conta o seu histórico de navegação e onde você clicou na web. O Facebook também considera os cliques, contudo tem em mira bem mais o que você compartilha e com quem você se relaciona na web, o que gera diferenças.

No Facebook, dificilmente você vai compartilhar ou “curtir” algo escatológico. Tentará não tornar públicos as suas preocupações ou os seus interesses particulares. No Google, você pode buscar qualquer coisa já que ninguém vai conferir o que você anda pesquisando na web. É tudo mais espontâneo. Ou seja, no Facebook as pessoas fazem uma performance. No Google, elas são bem mais “verdadeiras” nas buscas.

Teoricamente, os dados gerados no Google+ seriam utilizados para personalizar as buscas. Em outras palavras, para definir a relevância de uma informação, além de seu histórico de navegação e cliques, a Google levaria em consideração também o que você compartilha e com quem você se relaciona na web.

Pelo que foi apresentado até agora (o produto ainda está em testes), não é impossível que o Google+ faça com que a Google conquiste uma fatia no “mercado de plataformas de redes sociais”, mas daí a afirmar o tamanho dessa fatia e que a rede social será um “Facebook killer” vai uma grande distância.

Tudo depende de como e o quão rápido o Facebook responderá aos recursos do Google+ e o quanto veloz será a Google em conquistar os usuários do Facebook.

Talvez a Teoria dos jogos – “a melhor estratégia depende da estratégia dos outros” – seja o melhor conceito para entendermos melhor o que acontece entre Google e Facebook. A próxima decisão de uma empresa depende do que a outra acabou de fazer. É como um jogo de xadrez.

A “próxima decisão” do Facebook promete vir nesta semana. Segundo o blog Techcrunch, a plataforma de rede social estaria preparando o lançamento de um serviço de videochat que roda no próprio navegador. Em parceria com o Skype, seria uma possível resposta ao Hangouts.

Assim, não será nenhuma surpresa se a empresa de Mark Zuckerberg lançar também um recurso como o “Circles” e que permita a organização de forma mais intuitiva dos contatos no Facebook.

Aliás, essa interface foi desenvolvida, mas não é oficial. Neste final de semana, desenvolvedores criaram um “hack” que possibilita utilizar uma interface similar ao “Circles” no Facebook. Por enquanto, a ferramenta está em Circlehack.

Somente a partir de uma possível resposta do Facebook, teremos nas próximas semanas uma noção melhor do que será o Google+.

Veja também: Estamos “cadastrados” em redes sociais desde pequenos

9 respostas para “Google+ e Facebook prometem jogar xadrez”.

  1. É isso mesmo Tiago. O que está em jogo mesmo é a posse de dados importantes dos usuários. Acho que você subestimou um pouco o valor dos dados que o facebook tem, não são simplesmente algumas coisas que você compartilhou com os amigos: são interações com pessoas e sites, são dados precisos de perfil social, geográfico, econômico. Cada vez mais sites estão incorporando os recursos do facebook para personalizar a experiência, e eles podem perfeitamente monitorar isso tudo.

    Com certeza com esses dados consegue-se fazer uma segmentação melhor do marketing e lucrar mais. Veja, inclusive, como melhorou a relevância dos resultados de busca do Google com seu novo algoritmo que considera as interações sociais com a informação. O problema é que, até então, eles tinham acesso muito limitado a essas informações, comprando dados do Twitter e monitorando outros redes, um grande risco.

    De qualquer forma estou muito ansioso pra ver as próximas jogadas desse jogo, sem nenhum xeque-mate no horizonte, por ora.

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  2. Ao contrário do que dito no texto, é sim preciso de um programa extra para conversar nos Hangouts. Aqui na minha máquina precisei instalar um plugin do GTalk Vídeo no Chromium / OSX

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  3. […] já existia há algum tempo e o lançamento não teria qualquer ligação com o Hangouts, do Google+, declaração que não convenceu muito (a parceria com o Skype poderia existir, mas talvez foi […]

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  4. […] com grandes melhorias e “jogar um xadrez de alto nível com o Facebook” (como diria Tiago Dória). Com ferramentas que permitem reunir seus amigos em grupos, conversar via videochat com várias […]

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  5. […] também: Google+ e Facebook prometem jogar xadrez Enviar por […]

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  6. […] Enquanto Larry Page, cofundador da Google, comemorava os números, circulava na web um post do ex-Google Paul Adams. Adams é considerado um dos principais teóricos por trás do Google+.  Atualmente, é gerente de produtos no Facebook. O pesquisador foi para a empresa de Zuckerberg um pouco antes do lançamento do Google+. […]

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  7. […] corrida, a qual chamei de jogo de xadrez, a Google deu um passo importante. Adicionou ao Google+ um sistema de busca em tempo real. […]

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  8. […] Adams, o Google+ foi lançado em junho de 2011. E, segundo o americano, a Google vetou a publicação de […]

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  9. […] Nesta semana, a Google estreou dois comerciais sobre o Google+. […]

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