Há meia década, quase todo mundo falava obsessivamente sobre o MySpace. Era o site que estava mudando meio mundo – negócios, relacionamento, comunicação -, celebridades montavam perfis e empresas marcavam presença. Todos tinham que estar lá. A plataforma de rede social era avaliada em bilhões, a base de usuários era tão grande que chegou a ser comparada a um país (qualquer semelhança com a forma como falam atualmente do Facebook e do Twitter não é mera coincidência).
Nesta quarta-feira, 5 anos depois, a MySpace foi vendida por apenas US$ 35 milhões para uma semidesconhecida rede de anúncios, a Specific Media.
A MySpace promete se tornar um estudo de caso sobre negócios na internet. Como é o processo de ascensão e queda de uma plataforma de rede social?
Erros são apontados. Um deles é bem comum a outros negócios de internet.
No início, a MySpace era focada nos usuários. Em pouco tempo e brilhantemente, conseguiu construir uma base fiel de usuários, tendo como pano de fundo a música. Era símbolo de sucesso e empreendedorismo (merecido por sinal).
Em 2005, foi comprada por US$ 580 milhões pela NewsCorp. Foi considerado um dos primeiros negócios envolvendo uma empresa tradicional e uma da chamada Web 2.0.
Desde o início, para os executivos da MySpace, o grande lance da rede social era permitir a comunicação simples e direta entre músicos, gravadoras e fãs. Ou seja, a MySpace era, acima de tudo, um utilitário de comunicação, por isso o foco deveria ser nos usuários.
Depois da poeira sobre a compra baixar, a visão que a NewsCorp tinha sobre a rede social ficou mais clara. E era um pouco diferente – a MySpace deveria ser, antes de tudo, uma empresa de conteúdo. O grande lance era poder ouvir música. Ou seja, para o conglomerado de mídia, a rede social era muito mais uma plataforma de mídia do que um utilitário de comunicação. Na época, essa postura assumida pela NewsCorp era até justificável, pois o grupo nunca havia trabalhado com ferramentas de comunicação, mas apenas com conteúdo.
Historicamente, se você se posiciona no mercado como uma empresa de conteúdo, gera receita de três formas – publicidade, assinaturas ou as duas juntas. Executivos da NewsCorp queriam que a MySpace fosse pelo caminho da receita via publicidade – apenas. E é aí que começou o conflito.
Uma matéria de 2009 da Financial Times Magazine ficou conhecida por revelar o descontentamento de executivos da rede social com o excesso de publicidade e a busca obsessiva por pageviews. Segundo os executivos, essa postura estaria a sacrificar os usuários, colocando-os em segundo plano. Com a intenção de aumentar os pageviews a qualquer custo, um usuário tinha que dar 5 cliques até conseguir colocar um comentário em seu perfil na rede social.
De forma crescente, a atenção deixou de ser aos usuários para se voltar aos anunciantes. E quando um projeto de internet começa a colocar os usuários em segundo plano, já sabemos o que acontece. No caso, houve uma migração para o Facebook.
Apesar disso, acredito que as comparações com o Facebook são injustas. É certo que plataformas de redes sociais de várias épocas proporcionam o mesmo tipo de experiência – permitir que as pessoas se conectem e compartilhem informações por meio da internet, no entanto, o Facebook teve o seu crescimento em um outro contexto, em que a internet passou a ser utilizada efetivamente como plataforma de comunicação em massa.
Acima de tudo, hoje temos volume e um processo de desenvolvimento de uso das ferramentas. O Facebook está inserido nesse cenário. A MySpace estava em outro contexto. Ainda não tínhamos, por exemplo, o uso em massa da internet como plataforma de comunicação.
Se a gente for analisar, o Facebook se encontra num momento mais favorável.
Dá para tirar várias lições rápidas e certeiras da ascensão e queda da MySpace. Em uma plataforma de rede social, os seus principais clientes sempre serão os usuários. Você deve se focar neles. Sem eles não há audiência. Sem audiência, não há anunciantes; plataformas de redes sociais são, acima de tudo, utilitários de comunicação, as pessoas as utilizam para comunicação e conexão. Ou seja, elas são bem mais um “telefone” do que uma “nova CNN”; você deve ter em mira criar audiência e não simplesmente gerar tráfego – pageviews e “gaming search”. Ter milhões de usuários não quer dizer que você está em uma posição segura, basta um posicionamento errado, em pouco tempo, você pode perder todos eles.
Sobre a compra, ainda não se sabe o motivo. Bem provável que a Specific Media utilize a rede social para aumentar o seu inventário de publicidade. O mais certo é que, assim como o Friendster, daqui a alguns anos, a MySpace vire motivo de piada para o pessoal do Onion.
Veja também: Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia


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