Dois laboratórios, dois diários

Dois importantes diários de notícias – NYTimes e Washington Post – enfatizaram o trabalho de seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento na última semana.

Além de associar a marca da empresa à inovação, os laboratórios funcionam como uma startup dentro da publicação. Ou seja, um espaço de inovação e pesquisa de novos produtos, aliando profissionais de diversas áreas – desenvolvimento, designer, negócios, conteúdo.

Em algumas indústrias esse tipo de dinâmica é comum, a farmacêutica e a automobilística tratam a pesquisa de novos produtos como algo crucial para o seu futuro.

Na área de jornalismo ainda é algo novo, mas nada passageiro. Com a maior competividade e os softwares se tornando mídia, esse tipo de investimento em pesquisa se torna necessário.

O do NYTimes existe desde 2006 e é liderado por Michael Zimbalist, ex-AT&T e Disney.

A ideia é sempre olhar para o futuro. Um dos principais projetos é o Custom Times, versão experimental do NYTimes que trabalha com o conceito de conteúdo inteligente.

Enquanto que por aqui ainda se discute e glorifica o uso do Twitter e do Facebook no jornalismo, o laboratório do NYTimes explora a questão da ubiquidade da computação. Como os produtos de jornalismo se comportarão em um cenário onde existirão chips e sensores em quase tudo – roupas, mobília, paredes, carros?

De certo modo, essa postura “futurista” do NYTimes não é nenhuma novidade.

Em 1964, existia uma tal de “Comissão do futuro”, um departamento do jornal onde pesquisadores e executivos avaliavam o impacto e como tirar proveito dos avanços tecnológicos sobre os jornais.

O Engadget publicou alguns posts sobre o NYT Labs.

O laboratório do Washington Post, por sua vez, foi formado mais recentemente e tem a função de pesquisar e criar novos produtos para o WaPo, Slate, Foreing Policy, The Root e Express Night Out.

É liderado por Vijay Ravindran, ex-diretor de tecnologia da Amazon.

Um tradutor automático de tweets para facilitar o trabalho na redação e um mapa interativo dos conflitos no Oriente Médio são alguns dos projetos recentes do WaPo Labs.

A Atlantic publicou uma matéria sobre o WaPo Labs.

Na última semana, um fato uniu os dois laboratórios. Ambos lançaram projetos que exploram o comportamento recorrente na web de “zapear” pelas notícias e o conceito de Daily Me, popularizado por Nicholas Negroponte nos anos 90 – uma publicação personalizada de acordo com as nossas preferências.

News.me – O aplicativo para tablets monta um fluxo de notícias com base em quem você segue no Twitter. É pago – US$ 0,99 por semana. Facilita a atividade de “zapear” pelas principais notícias do dia.

É um exemplo da junção de uma startup com uma empresa tradicional. O projeto nasceu dentro do NYTimes, mas foi aprimorado pela Betaworks, startup da qual o jornal é um dos principais investidores.

Trove – Da mesma forma que o News.me, é um agregador de conteúdo. Cria uma página personalizada com base em seu círculo social. Para isso, utiliza a sua conta no Facebook como referência.

O Trove também recomenda conteúdo de acordo com a nossa navegação pela página. Conta com aplicativos para dispositivos móveis – celular e tablets.

Os dois projetos são uma nítida reação ao crescimento do aplicativo Flipboard, que, a meu ver, continua sendo superior. Além de uma navegação mais simples, o Flipboard dá uma liberdade maior de escolha e personalização que o News.me e o Trove ainda não são capazes de fornecer.

Mesmo que não tenha uma conta no Twitter ou Facebook, você consegue usar o Flipboard.

Vale destacar que outros veículos também estão de olho no crescimento do uso desses aplicativos que tentam aplicar o conceito de Daily Me.

Os britânicos Guardian e Telegraph lançaram na semana passada páginas especiais no Flipboard.

No caso, é uma estratégia um pouco diferente do NYTimes e o WaPo. Em vez de criar um projeto próprio, reinventar a roda, buscam fechar parcerias com projetos já consagrados de Daily Me.

Ou seja, é aquela velha questão. Vale a pena criar uma tecnologia própria ou se aproveitar de uma já consolidada?

Esse post faz parte de uma série sobre as mudanças tecnológicas e de filosofia no NYTimes e que tenho abordado desde o começo de 2008.

Veja também: Microsoft e NBC lançam “laboratório de novas mídias”

3 respostas para “Dois laboratórios, dois diários”.

  1. Tiago como sempre o seu blog contém ótimas questões e informações. Sobre esse post diria que é um paradoxo do próprio ser humano, pensar na tecnologia primeiro e depois ver o seu uso, ou vice-versa ( podemos ver isso na atual disputa entre o vale do silício e NY, com relação a empresas na área de tecnologia da comunicação). Ao meu ver a escolha entre desenvolver a própria tecnologia ou usar uma já pronta é questão de visão de negócio. Pode servir por um momento usar algo pronto, ao mesmo tempo que desenvolver algo inovador, não possa ser usado em sua totalidade naquele instante, temos como exemplo os tablet, sua origem remota muito antes dos famosos ipads. A questão em tudo isso é inteligência estratégia, ou como os RHs falam ultimamente, talento humano. A grande questão é percebemos como podemos melhorar a comunicação, que cada vez mais vem se tornando menos “intuitivo”.

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    1. @Lúcio

      Concordo com vc. Não existe uma resposta pronta. É uma questão de estratégia de negócios.

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  2. […] também: Dois laboratórios, dois diários Enviar por […]

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