Estamos matando os telefonemas

Quantas vezes você deixou de fazer uma ligação de telefone e acabou, no final das contas, enviando um scrap, email ou tweet?

Na última edição da Wired, o articulista Clive Thompson bateu o martelo. Os telefonemas estão morrendo. As pessoas fazem cada vez menos ligações telefônicas em troca de utilizar serviços de SMS e mensagens em plataformas de redes sociais.

O colunista toma como base pesquisa da Nielsen indicativa de que não somente a quantidade, mas o tempo das ligações tem diminuído a cada ano, depois de atingir um pico em 2007.

Thompson faz uma análise interessante sobre a mudança de comportamento. Mas vale ir além.

Além de uma mudança de comportamento, acredito que esse movimento mostra algo mais – em qual barco estão as plataformas de redes sociais.

Ligações telefônicas e redes sociais têm o mesmo DNA – são tecnologias/ferramentas de comunicação. Elas estão no mesmo negócio – conectar pessoas.

Comentei isso uma vez aqui, no blog, redes sociais estão mais para ferramentas de comunicação do que propriamente plataformas de mídia.

Você não utiliza um telefone por causa do conteúdo, mas pelo motivo de existir uma pessoa do outro lado. Pela simples razão de que ele conecta você a outra pessoa.

Da mesma forma, primeiramente, as pessoas estão nas redes sociais pelo motivo de poderem se conectar a outras e não por causa do conteúdo. De nada adianta publicar um vídeo no Facebook se não há ninguém para assistir e comentar. Sem as pessoas conectadas o “conteúdo do telefone” ou o do Facebook não tem valor.

Parece um detalhe conceitual, mas ter noção disso pesa bastante na hora de formular uma estratégia ou estudar as redes sociais. Percebe-se que, atualmente, ainda existe a mentalidade de ver as redes sociais como plataformas de mídia, como veículo, como se o tipo de conteúdo compartilhado e não a ligação entre as pessoas fosse o mais importante.

Historicamente, ferramentas de comunicação geram melhor receita por meio de serviços e funcionalidades a mais, e não por meio de publicidade, pelo simples motivo de que os anúncios soam intrusivos neste tipo de produto/tecnologia. Imagine a situação, você está conversando com uma pessoa ao telefone e de repente a conversa é suspensa para entrar um anúncio. Ou uma ligação de telefone se encerra ou começa sempre com uma propaganda.

Não é sem motivos que tentativas de inserir propagandas nas redes sociais, como se fossem intervalos comerciais, nunca funcionaram muito bem (o que faz todo sentido, o Facebook é bem mais um telefone do que uma CNN. A expectativa é outra).

Se as redes sociais estão substituindo as ligações telefônicas, bem ou mal, é por que, de forma tão ou mais eficiente, conectam as pessoas e permitem uma comunicação sem intrusão, assim como a tecnologia de telefonema tem feito há tanto tempo.

Atualização às 17h50  – Por coincidência, a Telefônica, operadora de telefonia, anunciou nesta quarta-feira a compra da rede social Tuenti, bastante utilizada na Espanha.

Veja também: Eles estão cada vez mais desconectados

Crédito das fotos: stephangeyer e cizake

20 respostas para “Estamos matando os telefonemas”.

  1. Li num livro: antes as pessoas se encontravam nas praças. Depois nos shoppings. Agora nas redes sociais. E complemento que nunca dei atenção para as placas publicitárias na quadra de futebol quando jogando com meus amigos…. pois estava lá para jogar.

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  2. Ótima análise como sempre. Viu que a Telefonia comprou o Tuenti? http://pelomundo.folha.blog.uol.com.br/arch2010-0

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    1. Obrigado, Joao.
      Pois é, faz sentido uma operadora de telefonia investir em uma rede social.

      abs

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  3. Bastante interessante o post! Uma análise direta e objetiva!

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  4. Avatar de Leandro Contador
    Leandro Contador

    Desculpe, mas seu comentário é no mínimo parcial. Não se trata apenas das redes sociais e das mensagens SMS serem melhores do que os telefonemas. É uma questão de preço. As operadoras cobram preços absurdos pelo minuto falado. As outras tecnologias são mais baratas. O usuário não é ignorante e sabe fazer a melhor escolha econômica para seu bolso. Se os preço dos serviços inverterem a relação de preços entre SMS e rede sociais com os telefonemas, logo a população voltará a migrar para os telefones e conferências telefônicas. Leandro Rick. Contador.

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    1. O conceito de eficiência presupõe a questão do baixo custo.
      Se uma tecnologia é tão ou mais eficiente que outra, é por que ela também pode fazer o mesmo por um custo menor.

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    2. O conceito de eficiência pressupõe a questão do baixo custo.
      Se uma tecnologia é tão ou mais eficiente que outra (conforme está no texto), é por que ela também pode fazer o mesmo por um custo menor.

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  5. Fiquei imaginando uma ligação interrompida por uma propaganda, kkkkkk Se já não me simpatizo mt com telefones, imagina rrsrsrsrs Mt boa colocação…

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    1. A Bouygues Telecom fez essa experiencia em França: ofereceu telefones gratuitamente em troca de spots publicitários de 10 segundos a cada 2 minutos de conversa (ou algo assim). Salvo erro isso permitiu ganhar partes de mercado e depois ela converteu parte desses clientes "gratuitos" em clientes pagantes. Não sei se a experiencia continuou muito tempo… 🙂

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  6. Oi Tiago!
    Eu não conhecia o seu Blog. Parabéns pelo conteúdo. E falando de conteúdo, permita-me ir um pouco a contra corrente da sua análise em 2 pontos (e talvez gere uma discussão saudável 😉
    1. Discordo da avaliação de que "primeiramente, as pessoas estão nas redes sociais pelo motivo de poderem se conectar a outras e não por causa do conteúdo". O conteúdo é o maior motivador da conexão. E aí entenda conteúdo como algum que trasncende as palavras. Vejo isso muito na perspectiva "se voce não me tras nada, não contribui para o meu crescimento, não tenho razão nenhuma para me relacionar com voce". Por isso que algumas redes sociais tornam-se gigantescas e depois vão diminuido. Se não houver algo mais do que a facilidade (tecnologia) de me colocar em contato com terceiros, rapidamente o interesse desaparece. No meu twitter já cheguei a acompanhar umas 200+ pessoas. Hoje esse numero não deve ultrapassar os 50. O mesmo aconteceu com o meu FB, Orkut etc. Acredito que concorde que o grau de "stickiness" dessas redes está muito ligado às mais valias que elas oferecem aos usuários, não? Isso é conteudo também, na minha humilde opinião.
    2. o segundo comentário na verdade é mais uma colocação quase filosófica, um medo. Eu já tinha sentido esse medo com o advento do celulares. As pessoas passaram a se encontrar menos (nas praças, nos shoppings, wherever, como disse o Cesar) para falar por telefone. Depois foi por email e mensageiros online. E agora são as redes sociais. Tenho ouvido algumas vezes umas desculpas do tipo "não sei de tal pessoa, nem tenho o Facebook ou Twitter dele…". A mesma desculpa tinha sido há anos atras falando do celular, emial, msn, icq, irc, bbs, etc, etc…

    Conclusão pragmática: a melhoria das ferramentas tecnologicas de comunicação tem tendencia a minar a cola social, o que que unia genuinamente as pessoas. Quanto melhor poderiamos comunicar, pior fica a comunicação? (calma, calma. É mais uma pergunta para gerar conversa 😉

    Grande abraço!

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  7. Concordo, mas quero obervar que há um público que está sendo
    excluído dessa ferramenta.
    São todas as pessoas tem a chamada vista cansada (esqueci o nome médico).
    Sou dessa faixa etária e tanto eu como meus amigos da mesma faixa,
    praticamente não usamos mensagens de texto, twitter ou outros via celular.
    Para nós, é praticamente impossível, no trânsito parado, em filas ou simplesmente
    andando na rua pegar o óculos para ler essas mensagens.
    E apesar de ainda sermos criativos, trabalharmos, ou termos interesse nessas
    novs ferramentas, a maioria dos aparelhos possuem teclados e telas minúsculas.
    Creio que só o iPhone foge um pouco desse padrão, mas o preço…
    Faço esse comentário pois creio que uma empresa que focar esse público
    e desenvolver aparelhos próprios para esse tipo de falta de visão, que cedo ou tarde
    quase todos teremos, pode ter uma ótima surpresa com um segmento tão desatendido.

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  8. Assim como eu, acredito que as pessoas de modo geral,vão utilizar cada vez mais estes meios de comunicaçõa: simplesmente porque saem muito mais em conta

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  9. Avatar de ADILSON GARCIA
    ADILSON GARCIA

    É ISSO AI, AS EMPRESAS DE TELEFONES TERÃO DE ACHAR OUTRO MEIO DE FATURAR, É UM CAMINHO SEM VOLTA… ISSO É FUNDAMENTAL, PRINCIPALMENTE QUANDO LEMBRO AS TARIFAS QUE NUNCA REQUISITEI, NOS FIXOS POR EXEMPLO E AS DEZENAS DE VEZES QUE TENTEI ENCERRAR UMA LINHA (CELULAR OU FIXO), ENFIM, O MUNDO ESTA MUDANDO HA UMA VELOCIDADE INCRIVEL…

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  10. Avatar de Andre Boavistta
    Andre Boavistta

    Thiago, Excelente artigo, mostra uma realidade que está em nossa cara, mas muitas vezes não percebemos com muita clareza. Acredito que estamos vendo o início de novas transformações que irão modificar profundamente a forma como usamos os telefones – que ainda continuarão a existir em um novo contexto. Um outro aspecto que talvez seja importante é que as teles nunca foram muito cordiais com os usuários e agora, com mais opções, a preferência seja a mais moderna, a mais rápida, a mais barata (free) e a mais simpática.

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  11. Em todo o mundo e em todas as coisas que nele existe, tudo gira em torno de Positivo e Negativo. Sempre um atrai o outro. Sempre há que haver um equilíbrio. Jamais funciona bem o Máximo e o Mínimo isoladamente. Com diz o Filósofo Ademberg: O excesso de escassez provoca a ausência de abundância.

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  12. Mais uma vez, Tiago, análise muito interessante. Parabéns.

    Um abraço!

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  13. Gostei deste texto e divulguei o link no meu Tumblr, Tiago: http://umpulha.tumblr.com/post/947003620/estamos-…. ABS!

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  14. […] com as redes de telefonia de voz está se repetindo com as redes sociais. Não é à toa que um vem substituindo o outro em muitos momentos do dia a […]

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  15. mto bom!

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