Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia

Em meados de 2009, quando Mark Zuckerberg, cofundador do Facebook, disse isso durante uma entrevista poucas pessoas deram atenção.

Segundo Zuckerberg, o que menos importa, numa mensagem, é o conteúdo e, sim, quem a envia. Se a mensagem vier de uma pessoa que você confia, você a escutará. No entanto, se vier de uma pessoa que você não confia ou não a conhece, dará pouca atenção, pouco importando o conteúdo. Isso se aplica a qualquer coisa, notícias, músicas, vídeos que são compartilhados na web.

Na ocasião, muitos não entenderam bem o sentido prático do recado de Zuckerberg. Contudo, ele ficou mais claro com as recentes mudanças anunciadas no Facebook.

A mais comentada foi lançamento do botão “curtir”, que pode ser inserido em qualquer site ao lado de qualquer conteúdo – vídeos, fotos e textos. Em um site que tem esse dispositivo, após uma pessoa clicar no botão, automaticamente aparece uma mensagem em seu perfil no Facebook, avisando que ela gostou de tal conteúdo.

É uma forma do leitor de um site endossar o conteúdo do mesmo e enviar aos seus contatos no Facebook um sinal de que gostou de um vídeo, texto ou foto.

No lançamento do botão “curtir”, os sites de notícias foram o principal foco. A ideia é que, com o uso do botão, esses sites enviarão tráfego e informações ao Facebook. Em contrapartida, receberão mais tráfego vindo da rede social e, além do mais, ganharão uma roupagem mais “social” (seja lá o que isso quer dizer hoje em dia, com a banalização do termo).

Os sites de notícias também poderão exibir em um box quais as matérias que os usuários mais “cutiram”. Ou seja, algo que o Times People, a rede social de leitores do NYTimes, faz há algum tempo, mas sem alcançar um grande número de adesões.

Se a gente olhar atentamente, essa dinâmica do botao “curtir” não é nenhuma novidade. Há algum tempo o Mento faz o mesmo e um pouco mais. E o botão “curtir” não difere muito daquelas fileiras de ícones existentes no final de matérias, feitos para compartilhar conteúdo em diversos sites – Twitter, Digg, delicious. Ícones que, diga-se de passagem, pouquíssimos usuários clicam e utilizam.

Então, de onde vem o burburinho em torno do botão? Vem do fato de o Facebook ser popular (400 milhões de usuários) e de os seus usuários serem bem ativos (25 bilhões de links são compartilhados por mês), assim como do que pode surgir a partir do uso do botão.

Numa suposta primeira fase, o Facebook conectou pessoas. Na nova fase, que começou recentemente, a rede social pretende associar pessoas a produtos, organizações e sites, relacionando-se, assim, ao conceito de web semântica.

A partir desse conjunto de dados, o Facebook poderia fornecer um mecanismo de busca mais eficiente em que a relevância dos resultados seria baseada nas nossas conexões sociais e preferências, e não num algoritmo semelhante ao que acontece atualmente no Google.

Você quer saber qual o melhor restaurante de comida árabe? Recorra aos seus amigos no Facebook que entendem bem melhor você e não ao Google.

Outra intenção é monetizar o grafo social, diagrama que ilustra todas as interconexões entre grupos, organizações e pessoas, um dos principais ativos do Facebook, segundo o próprio Zuckerberg. Com os dados do uso do botão “curtir”, esse diagrama ficaria mais rico e poderia ser utilizado para exibir anúncios personalizados, mais alinhados com as nossas preferências.

Contudo, o Facebook poderá encontrar algumas barreiras para um futuro tão brilhante.

A primeira delas, a questão da privacidade. Não é todo mundo que deseja que os seus dados de conexões sociais sejam utilizados por terceiros.

Depois o conceitual, a própria noção do que seja relevante para os meus contatos do Facebook pode nem sempre ser relevante para mim.

E a terceira questão, mais profunda, é o próprio modelo de negócios. Um modelo de receita via publicidade não é o caminho mais fácil para o Facebook. Em geral, redes sociais estão mais para ferramenta de comunicação do que plataforma de mídia. Ou seja, o Facebook é uma ferramenta de comunicação, um utilitário, tão quanto o telefone. As pessoas estão lá pelo motivo de poderem se conectar a outras pessoas e não por causa do conteúdo.

Historicamente ferramentas de comunicação geram melhor receita por meio de serviços e funcionalidades a mais, e não por meio de publicidade, pelo simples motivo de que os anúncios soam intrusivos neste tipo de produto/tecnologia. Imagine a situação, você está conversando com uma pessoa ao telefone e de repente a conversa é interrompida para entrar um anúncio. Ou uma ligação de telefone se encerra ou começa com uma propaganda.

Para alguns, todo esse futuro de “web semântica” do Facebook (competição com o Google, monetizar grafo social) não passa, ao menos por ora, de especulação. Isso, porém, não parece ser um problema para Zuckerberg, o Facebook está naquela fase em que o valor de uma empresa é fixado bem mais no que ela pode vir a ser do que em receitas e lucros reais.

Veja também: Dá para fuçar o DNA da Google?

Crédito das fotos: escapedtowisconsin e Dan Taylor

19 respostas para “Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia”.

  1. […] que fala sobre empreendedorismo: “Acendam as Luzes” de Rashid por Marco Gomes Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia por Tiago […]

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  2. viva a nova era!!!!!!!!!!!!!!!!!!1111

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  3. Avatar de rodrigocunha76
    rodrigocunha76

    Opa, "excelente" e ñ "ecelente" =)

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  4. Salve Dória!

    Cara, ecelente artigo. Tocou em vários pontos cruciais com relação a monetização de redes sociais. Aproveito o gancho para ousar em um comentário: SE o Facebook fosse PAGO, acredito que MUITA GENTE deixaria de utilizá-lo mas MUITOS ficariam. Acredito q o mesmo poderia acontecer com o Twitter.

    Tudo bem que surgiria logo um concorrente fazendo o MESMO só que oferecendo o serviço de forma gratuita. Mas, quem ficasse nas ferramentas pagas, poderia compartilhar de algum sentimento de STATUS. E venho percebendo ultimamente q Status na web é importante pra MUITA gente. Bem, os Badges e os locais compartilhados no Foursquare dizem por si =)

    Grande abraço e continue com este excelente e essencial blog! Passo por aqui TODOS os dias, muito embora não tenha o perfil de comentar posts =)

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    1. Obrigado, Rodrigo! abs

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  5. […] recentes mudanças na política de privacidade do Facebook estariam relacionadas ao projeto de monetizar a rede social (assunto que comentei com mais detalhes aqui, no blog, há duas semanas). Ou seja, em troca de […]

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  6. […] isso uma vez aqui, no blog, redes sociais estão mais para ferramentas de comunicação do que propriamente […]

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  7. viva o grafo social. Viva a era do crowldsourcing.

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  8. […] Veja também: Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia […]

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  9. […] você faça uma busca no Bing, sites e vídeos que os seus contatos mais compartilharam e “curtiram” no Facebook ficarão em destaque nos resultados da […]

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  10. […] a onda do botão “curtir” no Facebook então, a navegação ficou menos anônima. Basta entrar no perfil de uma pessoa para […]

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  11. […] Veja também: Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia […]

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  12. as tais hipervalorizadas redes sociais são ao meu ver intrinsecamente imbecilizantes
    sao reflexos pateticos de uma visão de mundo em que relacionamentos sao utilitaristas degradados por um visao de mundo em que a egolatria é regra

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  13. […] qual ele explica todo o conceito que serviu de base para a arquitetura o Google+.   Veja também: Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia Enviar por […]

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  14. […] também: Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia Enviar por […]

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  15. […] também: Para Facebook, o que mais importa numa mensagem é quem a envia Enviar por […]

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  16. […] razão dos instrumentos de influência que a plataforma de rede social construiu nos últimos anos e do fato de ter se tornado um […]

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  17. […] a mesma jogada do botão curtir do Facebook. É uma fonte quase que infinita de dados sobre as preferências dos usuários. Informações estas […]

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  18. […] a onda do botão “curtir” no Facebook então, a navegação ficou menos anônima. Basta entrar no perfil de uma pessoa para […]

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