RSS para acompanhar como cada político vem votando a pauta da Câmara, mashup para confrontar dados sobre o desmatamento na Amazônia e um mapa para identificar a demanda por escolas voltadas para educação adulta foram alguns dos projetos (“hacks”) desenvolvidos e apresentados durante o Transparência Hack Day, que eu acompanhei neste final de semana, na Casa de Cultura Digital, em São Paulo.
O encontro, que reuniu pessoas de diversas áreas para criar aplicativos em torno de dados públicos disponíveis, foi organizado pelo projeto Esfera, responsável pela clonagem do Blog do Planalto.
Além de um RSS para poder acompanhar a votação de cada político, o Parlamento Aberto tem a proposta de fornecer uma interface que permita visualizar os votos de cada deputado e senador. E ainda simular uma votação, onde você também pode votar nos mesmos tópicos dos políticos. Essa simulação acontece para que, no final, você possa confrontar os seus votos com os dos deputados e, a partir disso, descobrir com qual você tem mais afinidade política. Algo parecido ao que o Last.fm já faz na área de música, mas voltado para a área política.
O tr3e, por sua vez, confronta dados sobre o desmatamento na Amazônia. Atualmente, existem várias metodologias para mensurar a derrubada de árvores e que, muitas vezes, entram em conflito e são utilizadas para fins eleitoreiros. O tr3e tem o objetivo de confrontar e mostrar esses dados em uma interface do Google Maps para evitar distorções.
A partir de dados públicos do Ministério da Educação, o Mapa da EJA (Educação para Jovens e Adultos) mostra em um mapa todas as escolas que fornecem educação para adultos no Brasil. O objetivo é não somente mostrar onde essas escolas estão localizadas (algo difícil de visualizar por outros meios), mas identificar a demanda por esse tipo de educação no Brasil. A ideia, mais pra frente, é que as pessoas possam complementar essas informações plotadas no mapa.
Ademais, outros projetos foram apresentados. Um deles é um protótipo de um sistema de votação online para os cargos na USP. No caso, os próprios alunos
podem votar de forma remota. Outro, um mashup para mapear o lixo eletônico em todo o país. E ainda uma espécie de API (não oficial) para o projeto Excelências, da Transparência Brasil, e outra para a seção de fotos da Agência Brasil (o ABrCrawl).
O interessante é que esses dois últimos foram feitos em sites de informação que estão no ar, mas que apesar de terem uma abordagem de abertura de informações, não fornecem os seus dados de forma amigável e legível para computadores.
O trabalho é um pouco de “raspagem de dados”. Ou seja, extrair esses dados dos sites da Transparência Brasil e da Agência Brasil e passá-los para um formato aberto, tornando-os mais maleáveis, para que outras pessoas possam mesclá-los com outros dados e informações.
Vale lembrar que, em sua maioria, esses “hacks” estão em uma fase bem inicial, mais de conceituação e desenvolvimento (podem apresentar alguns erros). Neste momento mesmo, alguns deles estão sendo desenvolvidos. Todos foram apresentados no domingo, mas começaram a ser desenvolvidos e conceituados um dia antes, semelhante à dinâmica de outros eventos estilo “Hack Day“.
O Transparência Hack Day, na realidade, começou já no sábado de manhã, com Roberto Agune, do Gati (Grupo de Apoio Técnico à Inovação da Secretaria de Gestão Pública) apresentando o projeto do Portal Governo Aberto, do Governo estadual, que fornecerá 11 bases de dados sobre informações públicas (desemprego, PIB, condição de vida etc.).
Dados que já são públicos, mas serão disponilizados em padrão aberto e formato “amigável”, o que permitirá o desenvolvimento de aplicativos que possam melhorar o seu entendimento. Um preview do portal foi mostrado durante o Transparência Hack Day (imagem acima).
Na ocasião, a SEADE (fundação responsável pela análise de dados estaduais) aproveitou para distribuir um CD com dados públicos – cerca de 40 indicadores sobre todos os municípios do Estado de São Paulo. Os dados foram solicitados anteriormente pelos organizadores do Hack Day.
O projeto do Portal Governo Aberto está sendo feito em parceria com o escritório do W3C no Brasil. Aliás, o W3C também está em negociação com a Casa Civil para uma parceria para disponibilizar dados sobre as obras do PAC.
Vagner Diniz, gerente do escritório no Brasil, também presente no Hack Day, contou algo que chamou a minha atenção, além de governos, o W3C está com foco também em orientar, “evangelizar”, emissoras, jornais e rádios para que disponibilizem seu acervo em padrão aberto, o que vai ao encontro do que já está sendo feito lá fora com o NYTimes, BBC e Guardian, ao liberar o acesso público às suas APIs.
No período da tarde, Pedro Valente, jornalista e desenvolvedor, explicou como utilizar o YQL, ferramenta do Yahoo! que facilita a coleta de dados públicos na web, seguido pelo professor Sérgio Amadeu, da Faculdade Cásper Líbero, que falou sobre cidadania digital.
O que ficou evidente no debate da manhã é que os dados públicos existem, eles estão acessíveis para qualquer pessoa e os governos têm disposição em fornecê-los. O problema é o formato. Esses dados, na maioria das vezes, quando disponilizados na web, estão em formato pdf ou algo parecido que não permite a leitura por máquinas e impossibilita a criação de aplicativos e interfaces interativas e amigáveis para visualizar e interagir com essas informações.
Uma coisa é os dados poderem ser lidos por pessoas. Outra coisa é por computadores, serem utilizados de forma automática. Enfim, adianta muito pouco oferecer os dados em padrões não-abertos, legível apenas para pessoas. O grande diferencial é esses dados poderem ser lidos automaticamente por computadores, o que abre espaço para fazer cruzamentos e data mining, possibilidade que não existia enquanto esses mesmos dados não estavam digitalizados. A partir desses cruzamentos, é possível descobrir nuances e tendências que antes não eram perceptíveis.
Atualmente, é possível ter acesso a maioria dos dados que é considerada pública. Mas, dependendo do caso, é necessário fazer um ofício para o órgão responsável, justificar o uso e esperar um certo tempo para receber as informações que, na maioria das vezes, virão impressas e desatualizadas, já que se toma como referência a data em que foi feito o pedido de acesso aos dados.
Dinâmica que muda totalmente quando esses dados são oferecidos de forma aberta na web e com uma licença que permita o seu uso sem tantas restrições.
Para mim, o Transparência Hack Day foi bem positivo. Foi o primeiro deste tipo no Brasil. O que vai ajudar a fomentar que sejam realizados outros no país, sempre pensando em como utilizar a rede por uma maior transparência política. O encontro, claro, teve um caráter de provocação, sobre a importância de liberar os dados em formatos abertos, deixando para a sociedade a criação de ferramentas, interfaces e recursos que tornem mais fácil o seu entendimento.
Pessoalmente, foi ótimo para fazer mais contatos com desenvolvedores que estão por dentro dessa questão de “dados abertos” (jornalismo de dados) e aprender um pouco mais sobre APIs.
Para saber mais sobre o encontro e os seus desdobramentos, é só seguir a hashtag #thackday.
Veja também:
Como foi o seminário sobre mídia na Cásper Líbero


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