Nos finais de semana, a editoria de tecnologia do NYTimes tem o costume de requentar reportagens antigas. Algo meio chato para quem é leitor assíduo. Outro dia fizeram uma matéria sobre a diminuição da quantidade de posts em blogs, que era relacionada a um estudo do Technorati do começo de 2008, que já foi tema do jornal várias vezes.
Desta vez, foi um pouco diferente. Publicaram um interessante artigo sobre a mudança de hábitos que a internet proporciona no café da manhã. Ao acordar, cada vez mais americanos vão direto para os seus computadores ou celulares para checar emails ou ler informações. Antes mesmo de escovar os dentes ou tomar o café da manhã e, às vezes, na própria cama com o laptop.
É uma sutil mudança de comportamento e é lógico que não se aplica a qualquer pessoa. Existe gente que não tem nem nunca terá esse hábito.
Achei interessante essa matéria por que estou lendo o livro The Big Switch (A Grande Mudança, em português), de Nicholas Carr, para mim, atualmente um dos escritores mais lúcidos em relação ao que estamos passando em vários campos da sociedade.
Em um trecho do livro, Carr conta que, semelhante à internet, quando a energia elétrica foi inventada, surgiram diversos gurus com teorias utópicas e previsões mirabolantes sobre a eletricidade. No final, pouco souberam prever o que realmente iria acontecer.
Carr conta o caso do ferro elétrico que surgiu graças à eletricidade. O aparelho mudou o comportamento e as expectativas sociais sobre as roupas, algo que nenhum visionário tinha imaginado. Antes do ferro elétrico, rugas e amassados eram considerados normais nas roupas na medida em que era bem trabalhoso passar roupa em casa, os ferros eram à carvão. Depois, rugas em roupas viraram sinônimo de desleixo. Algo que perdura até hoje.
E outra. Com a eletricidade, a linha de montagem das fábricas de carros mudou, foi possível produzir mais carros e de forma mais barata. Como consequência, mais pessoas compraram veículos e com a facilidade de transporte resolveram sair dos grandes centros para morar em bairros afastados. Uma vez mais, ninguém havia previsto que a eletricidade promoveria o surgimento e o crescimento dos bairros afastados nas cidades.
Enfim, o que Carr mostra é que quase sempre as tecnologias fazem surgir “visionários” e teorias mirabolantes que, no final das contas, pouco conseguem imaginar as mudanças que essas tecnologias realmente proporcionarão ou estão proporcionando. Mudanças sutis, que são mais duradouras e que fazem parte do nosso cotidiano. Lembrei disso ao ler a matéria do NYTimes.
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Crédito da foto: Nikitab

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