Como eles tiraram leite de pedra

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É melhor já avisar. Para quem leu a versão em inglês, a edição em português do livro Founders at Work, com o nome de capa no Brasil de Startup, não traz nenhuma novidade. Pelo contrário, a versão que foi lançada no Brasil pela editora Agir, no mês passado, tem perdas.

O livro de 288 páginas traz entrevistas com os fundadores das mais recentes e importantes ferramentas web, algumas que fazem parte do nosso dia-a-dia, como Hotmail, Gmail e Firefox.

A versão em inglês conta com 32 entrevistas feitas pela autora, Jessica Livingston, criadora da empresa de investimentos Y!Combinator. A versão em português conta com somente 16 dessas entrevistas. Ou seja, apenas metade.

A ótima entrevista com Joshua Schachter, criador do site de favoritos del.icio.us, por exemplo, foi cortada. Sem contar que, na edição final, a versão original, em inglês, é visivelmente melhor.

Fotos dos entrevistados e tipografia mais agradável, por exemplo, são detalhes que estão ausentes na versão em português. Portanto, se estiver na dúvida em comprar ou ler a versão em português ou em inglês, escolha a segunda.

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Em resumo, Startup é um livro que reúne entrevistas com os fundadores de algumas das ferramentas web (startups) mais recentes e populares. Eles contam como tudo começou do ponto de vista de negócios.

Quem é empreendedor vai se identificar com algumas situações vividas pelos entrevistados, o que ajuda a criar uma identificação (Eles também já passaram por isso? Então é algo normal e possível de ser superado).

Pela leitura da entrevista com Caterina Fake (foto acima), cofundadora do Flickr, você descobre os detalhes de como surgiu o site de fotos, que hoje abriga mais de 3 bilhões de imagens. O site é resultado de um reaproveitamento do código de um jogo online, o Neverending. A possibilidade de poder compartilhar fotos online era apenas um dos recursos desse jogo. No final das contas, o recurso ficou mais popular que o próprio jogo. Isso em 2004.

Além disso, o livro desmitifica muitos empreendedores, que hoje têm quase status de celebridades, como o Evan Williams (foto que abre o post), cocriador do Blogger e agora à frente do Twitter.

Você acaba percebendo que todos eles cometeram erros e passaram por dificuldades comuns a todo iniciante (Evan teve o seu negócio, o Blogger, atacado por hackers no Natal e ele foi perceber somente no dia seguinte). Aliás, uma das coisas que chamou a minha atenção foi justamente isso, o amadorismo de muitos nas negociações com investidores e parceiros.

Algo que, segundo Mark Fletcher, criador do leitor online de RSS, Bloglines, já não existe tanto no Vale do Silício, pois os novos empreendedores que estão chegando ao mercado são mais informados em relação à parte jurídica e administrativa.

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Basicamente, todos os entrevistados passam dicas (a parte mais prática do livro), mas uma lição comum é que, no início de um projeto, você deve se focar mais na engenharia e nos usuários. Preocupações com anunciantes ou plano de negócios (ganhar dinheiro) devem vir bem depois. Em geral, é uma dica que une todos.

Porém, em última instância, o denominador comum entre eles não é essa dica ou o fato de serem jovens quando criaram as suas startups (a maioria abaixo dos 30 anos), serem apaixonados por tecnologia ou por estarem nos EUA.

Mas o fato de que todos eles, sem perceber, tiraram vantagem de crises, sejam elas no mercado (bolha da internet) ou pessoais (terem sido mandados embora, estavam muito insatisfeitos com o trabalho atual). Quase todas as startups citadas no livro sugiram nessas circunstâncias.

Nesse sentido, a leitura de Startup causa uma sensação de otimismo, sobre como crises podem ser produtivas e positivas, sobre ação e reação – como a insatisfação com um emprego atual o faz buscar o seu próprio caminho, montar o seu próprio negócio.

Por isso, que, em época de recessão mundial, que vai muito além de uma marolinha, Startup lança um sinal de que podemos estar num tempo, em que aqui e ali, pode estar nascendo a base de empresas tão inovadoras quanto a Lycos ou o Bloglines foram em seu tempo.

Crédito das fotos: Scoble, Joi e reprodução de capa

Veja também:
O pensamento vivo da Apple

14 respostas para “Como eles tiraram leite de pedra”.

  1. Tiago, vale citar também que o mini-site do livro deixa à disposição do leitor um PDF para baixar a entrevista da Apple, em 44 páginas: http://www.startupolivro.com.br

    Abraços!

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  2. Fica frio, só guardaram umas entrevistas pro volume 2 do livro. Alias, estou vendendo o meu (pt_BR).

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    1. @Andreyevbr

      Se fizerem isso, vai ser pior ainda. Dois livros = um livro lá fora.

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  3. Boa. Vou comprar o q está na wishlist da Amazon então, já q tem o dobro de entrevistas.

    Mas queria perguntar se viu isso aqui?

    https://www.timecmg.com/mine/

    Num primeiro momento achei q era tentativa de modelo novo, revista permanentemente customizada. Pelo menos foi o sugerido aqui http://www.fastcompany.com/blog/ariel-schwartz/sustainability/time-incs-mine-magazine-paper-saving-printed-rss-feed

    Lendo a interface da Time, no entanto, acho q é muito mais uma edição especial e única, algum projeto de marketing.

    Se não for, vale a pergunta: embrulho de peixe velho ganha sobrevida por ser customizado?

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    1. @Javoski

      Pois é, lembra um pouco o lance da Esquire e o e-paper na capa da revista. Ou seja, é algo temporário.
      Acho que o problema não é o conteúdo ser customizado. É de suporte mesmo.
      As pessoas estão usando menos a mídia impressa, o papel como suporte para se informar.

      abs

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  4. Deixaram de fora a entrevista mais divertida… com o fundador do HotOrNot.com

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  5. […] Tiago Dória Weblog » Como eles tiraram leite de pedra […]

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  6. Estava pensando em comprar o livro em pt-br, mas agora parece que vou precisar de um dicionário para poder ler completo a versão inglês. Não entendi o porquê que não traduziram todas as entrevistas.

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  7. […] a 2ª vez que Evan Williams, criador do Blogger, venderia um aplicativo para a Google (no livro Startup, Williams admite que não tem o costume de se focar muito, começa um site, espera crescer e depois […]

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  8. […] a 2ª vez que Evan Williams, criador do Blogger, venderia um aplicativo para a Google (no livro Startup, Williams admite que não tem o costume de se focar muito, começa um site, espera crescer e depois […]

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  9. […] (*) como alertou o leitor Mauricio Maia nos comentários, o livro original possui o dobro de entrevistas. Mais detalhes no Tiago Dória weblog. […]

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  10. […] 15:24h => O meu já está garantido e depois de ler eu faço uma análise se é bom ou não, mas o Tiago Dória fez algumas ponderações interessantes, como o fato da versão nacional do livro vir com a metade […]

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  11. […] Veja também: Como eles tiraram leite de pedra […]

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