
Durante a turnê de seu último disco, que passou pelo Brasil, a banda REM vem dando um aula de como trabalhar com “conteúdo gerado pelo usuário”, ou melhor “conteúdo gerado por fãs”.
Ao invés de uma burocrática agenda de shows, o site da turnê da banda americana, que roda em Drupal, funciona como um agregador de conteúdo. Reúne todo o material que está sendo produzido na rede sobre a turnê – mensagens no Twitter, vídeos no YouTube, posts em blogs e fotos no Flickr.
A intenção não é apenas documentar a turnê, mas fazer com que a experiência do show vá além da apresentação e continue (e se complemente) na web (tudo o que é bom não deve durar apenas 1h50).
Quem está a frente dessa estratégia online do REM é Ethan Kaplan, um antigo fã da banda e que hoje é vice-diretor de tecnologia da gravadora Warner.
Quando vejo iniciativas como essa do REM, tenho mais certeza de que esse método utilizado por sites de jornalismo colaborativo ligados a empresas de mídia (ou internet) de pedir aos usuários para enviarem vídeos, fotos e relatos está errado. Pelo menos, quando feito isoladamente é um método errado.

Uma das primeiras coisas que a gente precisa ter em mente é que as pessoas que produzem esse tipo de conteúdo não estão necessariamente interessadas em ser repórteres ou cidadãos-repórteres.
Não é por que uma pessoa tira fotos, grava um vídeo ou escreve um post sobre um show que necessariamente signifique que ela quer ser imprensa.
Ela simplesmente quer registrar e contar o que viu e ouviu aos amigos, familiares, colegas de trabalho, que, por sinal, não estão nestes sites de jornalismo colaborativo. Estão no Flickr, no Twitter, no YouTube, no perfil do Orkut e no blog que ela possui há não sei quanto tempo.
Isso explica, em grande parte, por que as pessoas postam conteúdo lá e não em sites de jornalismo colaborativo. É algo até meio que forçado postar conteúdo neste tipo de site. Não é natural.

Tanto é que as pessoas produzem esse tipo de conteúdo independentemente de um portal ou de uma emissora terem o seu site de jornalismo colaborativo, por que é algo espontâneo, faz parte da vida delas.
Com câmeras mais acessíveis e próximas de nossas mãos e ferramentas de expressão tão fáceis de utilizar, como um scrap do Orkut, cada vez mais, é natural as pessoas registrarem e compartilharem tudo o que vêem de legal e que considerem relevante.
Por isso que esses projetos de jornalismo colaborativo deveriam pensar mais em agregar conteúdo do que dar seu brilhante espaço para postar conteúdo. Deveriam pensar além de seu território.
E é também por isso que agregadores de conteúdo, como o Eleições Americanas e o serviço de livestream, estruturado pelo Manoel Lemos do BlogBlogs, que reúne e filtra em uma página tudo o que está sendo produzido na rede sobre um determinado assunto, são importantes ferramentas de jornalismo.

Se fosse fazer um site de jornalismo colaborativo, faria uma mistura de iReport com agregadores de conteúdo e ferramentas de livestream. Mais ou menos, como a cobertura da Virada Cultural feita pelo Radar Cultura – para pegar um exemplo brasileiro e mais próximo (O Washington Post faz algo parecido).
Teve “produção de conteúdo próprio” (as ligações das pessoas direto das ruas do centro de São Paulo) e o processo de agregar conteúdo (o site do Radar agregou todo o conteúdo que estava sendo produzido nos blogs, no Flickr, no YouTube sobre a Virada Cultural. Virou um hub).
Neste sentido, você acha que o REM iria criar uma plataforma para incentivar os seus fãs a enviarem conteúdo? Não. As pessoas já estão produzindo esse conteúdo, mas ele está no Flickr, no YouTube, no Twitter. O trabalho do REM é outro, não é ceder espaço, mas agregar. O conceito é outro.
Em seus 28 anos de carreira, o REM deu de presente um dos sites de turnê de banda mais dinâmicos já produzidos. E, em sua recente história, os sites de jornalismo colaborativo (participativo) não páram de olhar para o próprio umbigo.
As fotos do post são de Coti e clobby
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