BitTorrent é a TV da audiência global


Maioria dos downloads foi feita pela audiência global do seriado

A estréia da 3ª temporada de Heroes, da NBC, bateu recorde nos sites de BitTorrent, tecnologia utilizada para livre troca de arquivos na rede. Em apenas um dia, foram mais de 10 milhões de downloads dos capítulos de abertura da nova fase do seriado, segundo o MiniNova.

E o detalhe mais importante – 92% dos downloads vieram de usuários de fora dos EUA, países onde a 3ª temporada da série vai demorar semanas, meses ou anos para estrear na TV.

O que ajuda a corroborar uma pesquisa de uma das maiores redes de TV e rádio dos EUA. A priori, as pessoas preferem assistir a uma série na TV. Somente optam pelo download ou assistir na web a um capítulo que perderam [reprise] ou a um seriado ou temporada que vai demorar ou não passa mais na TV.

Jesse Alexander, produtor-executivo de Heroes, completou em entrevista ao TorrentFreak:

“As redes de TV devem reconhecer isso. E dar aos seus telepectadores mais meios de interagir com o seu conteúdo, além de encontrar formas de gerar receita de cada membro dessa audiência global”.

Também durante esse final de semana, na conferência Streaming Media West, Albert Cheng, da ABC Digital, disse que a emissora de TV planeja colocar todo o seu conteúdo na rede.

Programas completos para downloads, vídeos que podem ser “embedados” em sites e streaming ao vivo de jornais e seriados, além de ferramentas para que as pessoas possam fazer mashups e criar aplicativos que tenham como base o conteúdo da ABC. Talvez uma API com acesso público pela frente.


ABC: Não é TV, mas uma empresa de conteúdo

No final das contas, seguirá o mesmo caminho da CBS e BBC. O que o usuário quiser, quando quiser e onde quiser [ubiqüidade].

“A ABC é uma `marca de conteúdo` que poderá estar em qualquer dispositivo, moldada especificamente para atender às necessidades dos consumidores e anunciantes e ‘otimizada’ para cada uso e plataforma digital”

A emissora de TV, com sucessos como Ugly Betty e Lost debaixo de seu chapéu, é outra empresa de comunicação que pretende adotar a postura agnóstica do NYTimes, num processo de não se prender muito a nenhum formato ou suporte e se posicionar no mercado como uma empresa de conteúdo, de informação editada e estruturada.

O que, de certa forma, ecoa na entrevista de Vint Cerf ao The Guardian. O “vovô da internet” e evangelista da Google disse:

“Eu gostaria de sugerir que o termo newspaper [jornal] fosse dividido em 2 partes, ‘news’ e ‘paper’. O ‘paper’ [papel] precisa ser colocado de lado por um tempo, como um dos muitos possíveis suportes de distribuição de conteúdo. O mecanismo de produzir informação é  separado do de distribuição. Ou deveria ser…”


Cerf: “news” separado de “paper”

Para uma audiência global, cada vez mais comum nos produtos dessas empresas, resta saber se todo esse conteúdo de ABC, CBS, BBC e outras siglas, não estará bloqueado para usuários residentes fora dos EUA e da Inglaterra.

Enquanto não existir uma “lei internacional de direitos autorais”, uma Convenção de Genebra dos direitos autorais, o BitTorrent fica como opção para a audiência global dessas emissoras.

É frustante você lançar um produto como o Heroes e, num primeiro momento, ele ficar disponível apenas para a audiência de um país. Mais frustante ainda é tratar a internet como único meio de distribuição de conteúdo ou suporte de narrativa.

Por isso que os produtos mais interessantes caminham para serem aqueles apoiados na transmedia. O próprio Heroes é o melhor exemplo disso. Não adianta diretores de sites ficarem de birra com a TV e os impressos. E os diretores de TV, por sua vez, “ficarem de mal” com a internet.

Esse “mimimi” todo não vai levar a lugar nenhum. Transmedia e audiência global de produtos estão aí para não serem desperdiçados.

Enquanto isso, os sites de BitTorrent crescem em cima dessa audiência global não atendida.

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14 respostas para “BitTorrent é a TV da audiência global”.

  1. Vejamos, somente eu estou vendo uma grande oportunidade nessa merda toda ?

    Afinal, a NBC consegue fazer um produto tão desejado por 10 milhões de pessoas ao redor do mundo que elas se sujeitam gastar um tempo procurando, legendando e baixando a série pelo Torrent. Qualquer não-nerd preferiria evitar esse trabalho.

    Então, bastaria arrumar uma plataforma de distribuição que suporte o tranco ao mesmo tempo que um “adsense para vídeo” monetiza tudo.

    E esses caras reclamam das redes p2p !? Como se nós estamos preparando um mercado global para eles ganharem dinheiro ???

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  2. Parabéns pelo blog.
    Você foi indicado ao Prêmio Dardos!

    Até mais!

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  3. Bom post, Tiago. Acho que vale tb uma referência ao Futuratec, iniciativa do Canal Futura de distribuir programar via torrent. Pena que poucos estão usando. Abs, Carlos

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  4. @Carlos

    Sim. Uma ótima referência.

    abs

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  5. Olá, Tiago;

    Sou daquelas que entendem o básico, fazem o essencial, lêem muito e não comentam nada. Mas dessa vez resolvi escrever um comentário. Sou jornalista e hoje trabalho no mercado editorial. Tenho discutido online com editores espalhados pelo Brasil que temem o atraso do país em relação a distribuição de informação e direitos autorais. Enquanto vemos no resto do mundo grandes empresas transformando-se em verdadeiras empresas de conteúdo – acessível a qualquer um em qualquer canto do mundo – aqui ainda vigora o acesso restrito a assinantes premium e um mercado editorial vivendo há 20 anos.

    Como profissional de comunicação, sinto-me como que ouvindo o barulho da avalanche – só não sei quando ela chegará aqui.
    Abraços
    Suzana

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  6. Até porque há um delay entre o programa ir ao ar e chegar na rede para ser baixado e compartilhado via torrent. Aquelas transmissões ao vivo, com qualidade de quinta de streaming não contam.

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  9. Ridículo estes lançamentos não serem globais.

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  10. […] Para nós, brasileiros, a notícia é boa e ruim, pois é quase certo que os filmes estarão bloqueados para usuários não-residentes nos EUA. Enquanto isso, a audiência global segue no Bittorrent. […]

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  11. […] 2) BitTorrent é a TV da audiência global […]

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  13. […] o Spotify está fechado para usuários brasileiros (existe a versão paga). Enquanto a “globalização” não chega a alguns serviços e produtos da internet, sempre existe aquela esperança de […]

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  14. […] muito debate que em torno do jornalismo, blogs, a internet e streaming social. É uma conversa de horas no roda viva, na Tv Cultura, nas rodas de graduação e outros por aí. […]

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