É o produto, pô!

Jeremiah Owyang, da Forrester, escreveu um ótimo post sobre como uma marca ou um produto podem ser notados na rede. Aliás, o post abre com a pergunta: “Como ser visto?”

Às vezes, chama a atenção como esses gurus da “aldeia global”, da “web 2.0”, das “mídias sociais”, ou qualquer que seja o jargão da época, deixam de lado um dos aspectos mais importantes – o produto.

De nada adianta você se armar de tantas ferramentas – blogs, comunidades, vídeos engraçados no YouTube – se o seu produto é ruim. Produto bom gera boca-a-boca e mídia espontânea naturalmente e isso não é recente, por causa da web. É uma regra que já existe há muito tempo.

No caso mais específico do jornalismo, escuto de empresas. Por que as pessoas não contribuem para o meu site de “jornalismo participativo”? Na maioria das vezes, é possível responder – simplesmente porque o seu site é um produto ruim.

Não existe feedback constante, não investe em capacitação da comunidade, a tecnologia é ruim – as pessoas não podem enviar conteúdo direto do celular.

Seu site, no final das contas, é apenas um atravessador de informação. Pega o que o leitor envia, vê se serve para a sua linha editorial e publica.

E ainda. Você se dirige ao usuário somente quando acontece uma tragédia e pede a esmo fotos, vídeos e relatos. É como aquele colega que somente entra em contato para pedir favor.

A resposta pode ser algo nessa linha. E a equação desses projetos deveria ser: 70% relacionamento e o resto tecnologia e conteúdo. Sites de “jornalismo participativo” são, antes de qualquer coisa, projetos de relacionamento e não de conteúdo.

Não é um espaço para o qual o usuário envia conteúdo. É um espaço onde o usuário se relaciona com uma empresa de mídia e outros usuários.

Na prática, um site de “jornalismo participativo” é um canal onde uma empresa de mídia se relaciona de forma mais direta com aqueles que estão entre os seus principais clientes, ou seja, os leitores/usuários/telespectadores/ouvintes.

Mas, voltando à questão da importância do produto ser notado na rede. Esse aspecto é muito evidente na indústria de celulares. Diversos modelos e aparelhos são lançados por ano. Mas os mais notados são o Nokia 1100, o iPhone, o Blackberry e o N95, pois, antes de tudo, são bons produtos.

O iPhone é ótimo para quem gosta de navegar mobile e talvez seja um dos celulares que mais gerou buzz na rede. O N95 é um ótimo gadget para quem gosta de produzir conteúdo e é outro produto que ganha citações em blogs sem precisar fazer “post patrocinado”.

Na área de mídia, quem segue por essa linha é o The New York Times. Quem acompanha esse blog sabe do que estou falando. Eles estão se focando em fazer poucos, mas bons produtos, que são lançados de forma pingada. Numa tática parecida a da Google há dois anos. O boca-a-boca vem naturalmente.

Enfim, se fosse lançar um novo produto, focaria bem mais nele. Investiria bem mais tempo, energia e recursos em pesquisas e feedback sobre o mercado para lançar um produto bom ou muito bom.

Depois investiria em campanhas de marketing viral, que muitas vezes existem apenas para ratificar o buzz que foi gerado naturalmente com o lançamento do produto.

Quanto aos sites de “jornalismo participativo”, devem ser vistos mais como projetos de relacionamento do que de conteúdo se quiserem ser “produtos bons”.

As fotos são do LaughsquidSquad, DanH e Basajaun

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Nem toda empresa está preparada para a participação do usuário

9 respostas para “É o produto, pô!”.

  1. Excelente post, mas esse Nokia 1100 foi citado propositalmente mesmo? Enviar SMS e ter lanterna, não tem nada demais 😛

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  2. @Mano

    Também acho 🙂
    Mas é um celular muito bom para quem quer o básico do básico.

    Para mim, não funciona 🙂

    abs

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  3. Super post, Tiago! Compartilho da opinião de que o buraco da rede social, e toda esta conversa, tem mais a ver com desenvolvimento de produto/marcas, do que com a comunicação/publicidade sem nenhum envolvimento com o objeto que se pretente propagar. A minha opinião é que a contribuição que as pessoas podem dar para aperfeiçoar produtos é o que há de valiosos no universo digital. A minha dúvida nos últimos tempos é como conciliar as etapas deste ciclo de ‘feedback-aperfeiçoamento-comunicação’ com a ansiedade da indústria em ‘marketear’ seus produtos. Será que as marcas e produtos se tornarão forçosamente mais lastreados com qualidade colaborativa? Ou será que vamos ter que conviver eternamente com esta chatice de geração/produção de buzz ?

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  4. @Bartira

    Acredito que o grande desafio para a indústria que quer entrar nisso de “feedback-aperfeiçoamento-comunicação” é justamente pensar a longo prazo.

    Envolve relacionamento, e como todo relacionamento demora um tempo para amadurecer.

    Por isso, que muito projeto de jornalistamo colaborativo não funciona, pois muitas vezes não é pensado a longo prazo. 😉

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  5. Valeu, Tiago.

    Junte-se ao movimento:

    Use a verba de mídia para melhorar o seu produto!

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  6. […] O sucesso vem da capacitação e do constante diálogo com a comunidade, não apenas pegar o conteúdo que usuário envia e colocar no ar, como se estivesse fazendo um favor – olha o seu conteúdo está na CNN. Pelo contrário, o sucesso está no relacionamento constante, algo que comentei no post É o produto, pô! […]

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  7. […] que comentei no post É o produto, pô!. Antes de pensar em usar as “mídias sociais” para fazer barulho, buzz, utilize as […]

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  8. acho que o recado vale principalmente para as empresas brasileiras, eu ja havia escrito sobre isso tambem, aqui:

    http://www.coxacreme.com.br/2008/08/16/na-lingua-do-p-o-brasil-so-sabe-contar-ate-1/

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