Na verdade, somos viciados em eletricidade


Viciado em internet? O “vício” em eletricidade é bem mais antigo e natural

No primeiro capítulo de Universo Elétrico, o seu autor, o historiador David Bodanis, já começa jogando contra as habituais matérias alarmantes sobre vício em internet.

Na verdade, antes de tudo, somos viciados em eletricidade, somos extremamente dependentes da eletricidade.

No caso da falta dela, “o isolamento se intensificaria. A internet e todos os emails logo deixariam de operar; em seguida, as linhas telefônicas […] a fome se instalaria primeiro nas cidades asiáticas densamente povoadas, especialmente em virtude da falta de refrigeração dos depósitos de alimentos […] poucos teriam chances de sobreviver.”

O cenário que o historiador americano descreve na abertura de seu livro lembra alguns momentos de filmes como A Guerra dos Mundos.

Porém, em nenhum momento, Bodanis acredita que essa dependência da eletricidade, que geraria esse remoto cenário, seja negativa.

Pelo contrário, as forças elétricas fazem parte do homem. São responsáveis por unir as moléculas, são a força do nosso cerébro, o que mantêm unidas as cadeias de DNA de nossos corpos. Eletricidade faz parte do homem. Não se resume a ser combustível do funcionamento de gadgets.


Celular é um dos gadgets que melhor consegue agregar tecnologias adjacentes à eletricidade

Universo Elétrico é um livro de 294 páginas que tem como principal mérito mostrar de forma “romanceada” a história da eletricidade e suas tecnologias adjacentes – gps, telefone, lâmpada etc.

Sem ser técnico, apresenta os protagonistas dessa história como mocinhos ou vilões ou, em certos momentos, como uma mistura dos dois.

O mais marcante na leitura do livro é o fato de Bodanis revelar os pontos mais obscuros de diversos inventos que surgiram em torno da eletricidade, além de mostrar algumas figuras famosas dos livros de história, como o engenheiro William Shockley, de forma diferente, às vezes, até bem negativa.


3º livro de Bodanis

O telefone foi criado, antes de tudo, por que Graham Bell queria se comunicar melhor com a sua namorada, que era surda. Ou seja, num primeiro momento, o telefone surgiu como um aparelho contra surdez.

O Vale do Silício surgiu como hub de refugo para diversos engenheiros recém-formados decepcionados, mas com muita ambição. Aliás, a região, no Sul de São Francisco, ficou conhecida por muito tempo apenas pelas plantações de damasco.

Nos anos 50, engenheiros recém-formados eram atraídos para trabalhar na região, na empresa do famoso William Shockley, ex-engenheiro dos Laboratórios Bell.

Na verdade, seria um bom ladrão de idéias que só tinha nome. Chegando lá, muitos dos novatos engenheiros se decepcionavam. A empresa de Shockley não era tudo isso e ele menos ainda uma pessoa talentosa.

Abastecidos por essa decepção logo no início da carreira profissional, os recém-formados resolviam formar as suas próprias e pequenas empresas com idéias geniais vindas de teses acadêmicas. Nascia o Vale do Silício como conhecemos hoje.


Música elétrica: efeito da eletricidade nas artes

Tecnicamente, o livro de Bodanis é bem escrito. No capítulo sobre Heinrich Hertz, que comprovou a existência das ondas eletromagnéticas, o que abriu caminho para o surgimento das frequências de rádio UHF, o historiador chega a brincar com a estrutura narrativa, publicando cartas e dialógos de Hertz com os seus pais e amigos.

Porém, existe um ponto negativo na obra de Bodanis e que pode ser decepcionante para algumas pessoas. O livro termina sem qualquer conclusão ou pistas sobre o futuro do uso e dos descobrimentos das características das forças elétricas.

Ele descreve muito bem o passado, contextualiza alguns aspectos com o presente, mas e o futuro?

O historiador arrisca alguma coisa sobre pesquisas mais profundas de neurotransmissores, capacidade de entender e controlar o cérebro que, antes de tudo, é uma “máquina elétrica”. Mas é bem rápido e superficial.

A certeza é a de terminar a leitura do livro com a sensação de que seu vício em eletricidade é a coisa mais normal do mundo.

O próximo livro a ser tema de post será o “A Evolução das Coisas Úteis“, do engenheiro americano Henry Petroski. Acredito que muitos de vocês já leram. Já li diversos trechos e artigos sobre ele, mas somente neste mês tive um contato melhor.

Ele mostra a história do desenvolvimento do design e das funções de diversas ferramentas tecnológicas, desde o garfo até o celular.

Ao mostrar essas trajetórias, o engenheiro tenta descobrir quando acontece aquele instante em que um produto de tecnologia se torna tão familiar e indispensável que esquecemos a sua existência.

Na ordem de cima para baixo, as fotos do post são de Bellerofonte, Le Roy e Manuel Lino.

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9 respostas para “Na verdade, somos viciados em eletricidade”.

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  2. Hum, legal a dica dos livros.
    Só um detalhe: bem que poderia colocar quanto custa!

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  4. […] Veja também: Na verdade, somos viciados em eletricidade […]

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  7. […] vale republicar esse post de 2008, Na verdade, somos viciados em eletricidade, sobre o livro Universo Elétrico, do historiador David Bodanis, que começa de forma bem realista. […]

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  8. […] gosto bem mais do estilo do historiador David Bodanis. A leitura é bem mais atraente. Em seu livro Universo Elétrico, ele conta a história da eletricidade e suas tecnologias adjacentes (gps, telefone, lâmpada) de […]

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