
O Sampaist completou um ano. Até hoje me lembro quando Leandro Meireles, editor e idealizador do Sampaist, mostrou o blog para mim. De cara achei bem interessante por ser coletivo e principalmente por ser uma filial brasileira da Gothamist, uma das redes de blogs mais importantes do mundo. Na época escrevi um post a respeito [Sampaist, o blog de São Paulo].
Pois é. Um ano passou rápido e hoje o Sampaist acumula 1800 posts e 1400 comentários e é um dos projetos de blogs mais consistentes do Brasil. Além disso, tem um papel importante na história dos blogs no país. É a 2ª rede internacional de blogs a abrir uma filial no Brasil [a 1ª foi a The Business Opportunities Weblog Network]. Aproveitando o aniversário de 1 ano, bati um papo por email com o Leandro.
1 – Como surgiu a idéia do Sampaist?
Não sei precisar o exato momento em que tive a idéia de montar o Sampaist. Posso garantir que foi durante o tempo “ócio produtivo” na internet. Sabe quando você está navegando na web meio sem destino, pulando de um blog para outro?
Pois então… eu caí no Gothamist e achei a idéia de um blog coletivo sobre uma cidade específica muito legal e viável. Na mesma hora, pensei que o formato poderia ser transportado para São Paulo sem problemas.
Nesse mesmo dia, eu já tinha cruzado com uma matéria no NYT sobre como São Paulo tinha virado um destino “cool” de turismo. A reportagem era enorme e falava da gastronomia, da noite, da cultura da cidade. Escrevi um e-mail para o pessoal do Gothamist, linkei essa matéria e eles toparam montar o Sampaist.

2 – E como é a relação com o pessoal do Gothamist? Vocês têm metas a atingir? Limite de posts por dia, essas coisas.
Nós temos uma relação bastante aberta. Como estamos em outro continente, temos liberdade para fazer parcerias locais. É o que fizemos com a Obra, que fabrica nossas camisetas, ou com o Milo, local da festa de um ano do site.
Mesmo tendo essa liberdade, temos metas de posts e de pageviews a atingir. Isso não quer dizer que se não atingirmos a meta vamos fechar, mas são diretrizes para que todos os blogs da rede cresçam de uma forma uniforme.
3 – São Paulo é uma cidade que gera muitas pautas. Como vocês escolhem os assuntos do Sampaist? Vocês realizam reuniões para decidir o que vai ao ar?
Pauta é o que não falta em São Paulo. Geralmente a gente tem várias pautas e pouco tempo livre para escrever. Até porque, todo mundo que escreve no Sampaist trabalha e/ou estuda em tempo integral.
O Sampaist promove reuniões presenciais, mas quase nunca falamos de pautas específicas. Geralmente conversamos sobre os rumos que o site está tomando, o que seria legal falar, que série de posts deve ser feita.
E temos um grupo de e-mails bem ativo. Quando a Lígia foi escrever sobre o Dia da Pizza, ela avisou no grupo de e-mails e cada um deu suas sugestões e ela compilou o post. É geralmente assim que funciona.
Acho que esse sistema funciona bem porque ninguém é obrigado a escrever sobre o que não quer ou não gosta. No final das contas, o Sampaist é um blog em que os autores querem compartilhar com os paulistanos o que acham bom ou ruim na cidade. E tem muita opinião pessoal nisso.

Festa de 1 ano do Sampaist
4 – Aproveitando que o blog fez aniversário de um ano. Durante esse período, quais foram os acertos e os erros do Sampaist?
Eu acho que conseguimos escrever sobre São Paulo sem cair no clichê de “avenida Ipiranga com a São João”. Sem cair naquela coisa ufanista do tipo: “não há nada melhor que minha cidade”. Na verdade, a gente tenta ter uma visão bem crítica sobre os pontos positivos e negativos da cidade.
Os erros são mais fáceis de serem identificados. Acredito que a principal dificuldade do Sampaist, desde o início, foi formar uma comunidade sólida de comentaristas para interagir com o site e os autores, muito por culpa da ferramenta que usamos (mais sobre o assunto na pergunta seis). E essa interação é fundamental e enriquece demais o blog.
Uma outra coisa que a gente ainda não conseguiu é fazer uma cobertura mais profunda de grandes eventos que acontecem na cidade, como o São Paulo Fashion Week, a Bienal ou o Festival de Cinema.
Nesse caso, o maior problema é conciliar o trabalho com o blog e ter tempo para fazer liveblogging, produzir conteúdo exclusivo e etc. Um dia chegamos lá!
5 – Você esteve recentemente, em Nova York, com os fundadores da Gothamist. Você percebeu alguma diferença na forma das pessoas lá fora tratarem os blogs em geral?
É muito diferente. Inclusive a forma com que a própria “grande mídia” trata os blogs. Você vê a todo momento um blog sendo citado em revista, jornal, programa de TV. Isso faz com que o público veja o blog como um meio de informação/opinião de qualidade.
O problema é que lá, diferente daqui, os blogs “furam” os grandes jornais e revistas com uma certa freqüência. É por isso que eles se tornaram referência e fonte de notícia. No Brasil isso dificilmente acontece. E quando acontece, geralmente é o blog de algum jornalista político já “de nome”, que tem seus contatos de jornalista, não de blogueiro, e o suporte de algum grande portal.

Blogueiros do Sampaist
6 – O Movable Type é o sistema de publicação de blogs usado no Sampaist. Em sua opinião, quais são as vantagens e desvantagens desse sistema?
Já usei o WordPress, o Blogger, BliG e o Movable Type. Ainda prefiro o WordPress, pela simplicidade e por ser bem mais leve e fácil de instalar que o MT. Mas como no Sampaist eu praticamente não mecho na parte técnica, é tudo feito pelo pessoal de NY, eu me preocupo mais com a parte editorial. E isso o MT não deixa a desejar, na minha opinião. Ele tem um bom gerenciador de autores e podia ter uma interface WYSIWYG para postar.
O maior problema do MT é seu sistema de comentários e trackbacks. Ele não evoluiu tanto como os spammers e até o começo do ano a rede Gothamist sofria muito com os ataques de spam. O site de NY chegava a receber centenas de milhares de comentários um intervalo muito curto, o que sobrecarregava o site e derrubava o servidor.
Agora parece que, com o desenvolvimento de um novo módulo de comentários, o problema foi resolvido. Só que esse novo módulo é muito mais restritivo ao usuário e é por esse motivo que eu acho que o Sampaist não conseguiu criar uma comunidade de comentaristas fixos.
Agora, o leitor precisa criar um login para comentar com o próprio nome, e-mail e URL. Ele pode comentar como “guest”, mas aí os dados dele não aparecem na página de comentários.
Resumindo… Se o MT não fosse tão complicado para instalar e tivesse um melhor sistema de comentários e trackbacks, ele poderia competir “pau a pau” com o WordPress. Agora eu só recomendo para blogs ou redes de blogs que precisam de um bom sistema de autores e que precisam criar vários blogs em uma instalação só. Nisso, o MT ainda é melhor.

São Paulo vista do Copan
7 – Você é leitor de blogs há bastante tempo [lembro que você acompanha o meu blog desde a época do Blogspot]. No papel de leitor, vê um futuro promissor para os blogs no Brasil?
Eu vejo um futuro muito promissor (não para todos). Na verdade, o presente já está muito diferente do ano passado, por exemplo. Dá para ver que existem pessoas se movimentando para tornar a “blogosfera” brasileira mais respeitada, mais rentável e mais visitada. Existem várias redes de blogs se formando e as empresas de publicidade já olham com mais carinho para os blogueiros mortos de fome.
Acho que o que ainda falta, e que vamos demorar para atingir, é a diversidade editorial e a respeitabilidade que os blogs tem nos EUA. Os blogs brasileiros precisam furar e pautar mais a mídia. Tem um texto bem bacana do meu ex-chefe que fala sobre isso.
8 – Ah, e uma curiosidade, qual é o ponto mais geek de São Paulo, em sua opinião? 😉
São Paulo está cada vez mais geek. Itaú Cultural, Casa Gafanhoto, pontos wifi pipocando por aí e etc comprovam isso. Mas para mim, um sabadão na Sta. Ifigênia é o programa über geek de Sampa… Não é para os fracos. 🙂
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