Entrevista com Gabriel Pillar [1984-2006], do Insanus


Pillar/foto: Carol Bensimon

Já há algum tempo deu na telha de começar a fazer entrevistas com diversas pessoas da blogosfera, no Brasil e no exterior. Não vão ser semanais, nem mensais. Vai sair quando tiver assunto. A primeira delas é com Gabriel Pillar [1984-2006], editor ou coordenador – como preferir – do Insanus, uma rede brasileira de blogs, que reúne 21 diários e um mais um podcast sobre diversos assuntos.

Na minha opinião, um dos mais consistentes coletivos de blogs do Brasil, por conseguir absorver bem toda essa coisa dos blogs – informalidade, opinião e ‘faça você mesmo’.

1) Quais as diferenças entre os blogs e as mídias anteriores? Se é que elas existem?

O blog é atualmente uma das mídias mais dinâmicas, primeiro por não precisar responder à ninguém. Também, a facilidade de publicação faz com que qualquer pessoa, com os mínimos conhecimentos técnicos, possa contar suas histórias, relatar ou questionar algum episódio.

E a rapidez na disseminação de informações, que não seria um fenômeno dos blogs em si mas sim da própria estrutura da Rede, é potencializada ao máximo com isso.

Ele é, ao fim, uma ferramenta de comunicação. Se vais usá-la como mídia de massa, ou como simples veículo pessoal para manter um pequeno círculo de amigos informados sobre uma viagem, por exemplo, vai depender do “blogueiro” e do que cada um busca com o seu blog.

2) Qual a ‘receita’ para uma rede de blogs como o Insanus funcionar? União entre os blogueiros, afinidades, amizades anteriores?

Claramente o Insanus não funciona. Novamente, haverá uma “receita” dependendo do uso que queres fazer destes blogs. O Insanus é uma rede de amigos, funciona porque nos conhecemos do dia-a-dia e porque tem alguém pra segurar as pontas e organizar o servidor todo o mês. Não funcionaria como qualquer outra coisa.


Cuidado! Blogueiros do Insanus/Foto: Sabrina Fonseca

3) Qual sistema de publicação de blogs vocês usam no Insanus? E por que o escolheram?

Movable Type. Apesar de ser um tanto pesado no servidor, o MT tem uma interface bastante amigável, o que é muito necessário pra gente. A maioria das pessoas não são tech savvy, então tem que ser algo bem organizado e com poucas complicações, mostrando só aquilo que é essencial. Faça o usuário clicar mais de três vezes (e ainda ter que encontrar os links no meio de um monte de outros) e ele sai correndo na hora. Simplicidade é a única forma possível.

4) Duas redes internacionais de blogs já estão no Brasil: a Gothamist e a Metroblogging. E Anita Campbell, da Creative Weblogging, deu a entender recentemente que o mercado de blogs já está saturado nos EUA e que eles têm a intenção de ir a outros países. Você acha que isso pode acontecer no Brasil? Redes internacionais de blogs começarem a investir aqui?

Está saturado porque estes blogs ou redes maiores parecem não entender o que realmente está acontecendo, simplesmente migrando modelos tradicionais de mídia para dentro da Internet.

Claro que redes globais terão um forte apelo, e terão milhares de leitores, e os anunciantes irão babar com os números, mas isso é uma grande bobagem, porque no fundo eu acho que leitor quer é discutir e saber sobre seus espaços locais. Quer participar. Não é uma questão de investimento. Dentro do universo de blogs, a pequena escala é o que há de mais interessante e, porque não, revolucionário.

5) Você é a favor de publicidade em blogs?

Como em qualquer outra mídia, não vejo nenhum problema em vender espaço publicitário, desde que isso não influencie no conteúdo.


Foto: Sabrina Fonseca

6) Você acredita que uma rede de blogs seja o melhor modelo para os blogs? É a melhor forma de organizar o conteúdo e buscar anunciantes? Vários blogs reunidos sobre diversos assuntos?

Como assim, alguém realmente ganha dinheiro com blogs? Enfim, uma comunidade com certeza traz bastante visibilidade, o que para alguns pode ser interessante. No fim vai depender do uso que queres para o blog.

Algumas pessoas não querem ser ‘pop stars’ da internet, mas simplesmente escrever pra sua família. Não existe o “melhor modelo”. Existem formas de uso do blog, que é simplesmente uma ferramenta. Nova, sim. Super bacana, sim. Mas que no fim deve ser explorada como apenas mais uma folha de papel A4.

7) Como serão os blogs daqui a 5 anos? Mais integrados à mídia tradicional? Consolidados como mídia?

Com o rápido crescimento no número de blogs, o grande problema vai ser encontrar conteúdo relevante. E aqui o modelo google de que os sites mais lincados são aqueles que irão me interessar já não funciona. Porque, como eu disse antes, o espaço local estará cada vez mais valorizado. Por isso as pequenas redes de blogs podem ser interessantes, pra agrupar pessoas de uma mesma região, ou que tenham interesses e abordem assuntos em comum.

*Uma semana após essa entrevista o Gabriel faleceu*

Uma resposta para “Entrevista com Gabriel Pillar [1984-2006], do Insanus”.

  1. […] do Dmae, acontece o lançamento de um livro-memória, com textos em homenagem ao Gabriel. Reveja a entrevista que fiz com ele uma semana antes de sua morte e que também será publicada no […]

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