Sempre que um produto, como Facebook, Google ou Twitter, muda a sua interface, o roteiro é o mesmo. Os usuários entopem a internet com reclamações sobre o novo visual. Daí, em dois meses, esquecem a velha interface e acham a nova a melhor de todos os tempos. Por que isso acontece? Os usuários não gostam de mudança?
Segundo Javier Bargas-Avila, pesquisador do Google na área de UX (user experience), o motivo é simples. Toda mudança na interface gera no usuário um sentimento de perda de conhecimento e de controle sobre o site. Quanto mais um site é utilizado e está presente na vida dos usuários, maior é essa sensação durante uma mudança de interface.
Em outras palavras, as pessoas não gostam de se ver privadas do controle e do conhecimento sobre as coisas que utilizam no dia a dia.
Para o pesquisador, o segredo para minimizar essa percepção durante o lançamento de um novo site é avisar , de forma clara e direta, ao usuário que ele realmente perdeu conhecimento sobre o site, mas ganhou outras coisas com a nova interface.
Bargas-Avila discutiu essa premissa durante um almoço, na semana passada, no Berkman Center for Internet and Society, na Universidade de Harvard, aqui na região de Boston.
Segundo o pesquisador do Google, sempre quando falamos sobre estética e usabilidade de sites, precisamos ter em mente que a expectativa das pessoas em relação a esses termos muda com o passar do tempo. O que um usuário espera da usabilidade de um site hoje é muito diferente de 10 anos atrás. Basta lembrar que, em 1998, como usuários de internet, tolerávamos coisas como banners pop-ups e páginas que não abriam no celular.
Ou seja, para Bargas-Avila, precisamos tomar muito cuidado com “verdades absolutas” que existem na área de usabilidade. O pesquisador lembrou as “leis universais” de Jakob Nielsen, que até então eram inquestionáveis.
Achei interessante esse pensamento do pesquisador, pois o almoço com o funcionário do Google aconteceu no mesmo dia em que a Apple lançava o seu iOS7, o qual proporcionou mudanças bem marcantes na interface do sistema utilizado em iPads e iPhones.
As mudanças na interface iOS7 seguem essa posição – as expectativas dos usuários mudam com o tempo. Hoje estamos bem mais maduros em relação às telas sensíveis ao toque de mão, por isso não faz sentido a Apple utilizar a mesma interface desde 2007, desenvolvida quando as pessoas ainda tinham pouca ou nenhuma familiaridade com a tecnologia touchscreen.
Durante o almoço, o pesquisador do Google apresentou também alguns estudos sobre a relação entre beleza e usabilidade de um produto. Nos anos 90, entre os designers de sites, existia o pensamento de que a beleza estava a serviço do conteúdo. De nada adiantava ter um site bonito se não havia bom conteúdo.
No ano 2000, essa ideia mudou quando os pesquisadores Tractinsky, Katz e Ikar publicaram um estudo demonstrando que a estética tem grande influência sobre a forma como encaramos a usabilidade e o conteúdo de um site. De nada adianta que um site tenha boa usabilidade ou conteúdo, deve ser também atraente.
E, agora, recentemente, o pesquisador do Google publicou uma outra pesquisa que mostra que a usabilidade pode afetar a percepção que temos sobre a beleza. Se um site tem a usabilidade ruim, ficamos irritados e acabamos tratando o mesmo como feio. Ou seja, há uma estreita relação entre usabilidade e o julgamento que elaboramos sobre a beleza de um site.
Para Bargas-Avila, os estudos revelam que desejamos produtos bonitos e que, ao mesmo tempo, tenham uma boa usabilidade. De certa forma, já fazemos essa análise quando compramos um sapato. De nada adianta ter um sapato bonito se ele tem uma péssima “usabilidade” – é apertado e difícil de calçar. A experiência como um todo é ruim.
Mas, por outro lado, também não queremos ter um sapato que é bom de calçar e no número correto, mas é feio. Possivelmente sapatos sejam o produto que em mais temos cuidado em unir usabilidade e beleza
Talvez seja uma boa ideia tratar sites e aplicativos como sapatos, produtos simples de usar, mas, que, ao mesmo tempo, podem ser bonitos.
