
Com o urubu voando baixo em publicações feitas exclusivamente para tablets, como o The Daily, começam os questionamentos sobre se o modelo é viável.
Charlie Warzel, em artigo na Adweek, mostra que diversas publicações feitas exclusivamente para o iPad vêm amargando problemas. O The Daily tem resultados tanto financeiros quanto de leitura abaixo do esperado. O The Project idem. A revista do Huffington Post segue por um caminho distante do sucesso.
Existem diversas explicações para o baixo desempenho. Lançar uma nova marca editorial num mercado cada vez mais saturado não é nada fácil. Ou – num mundo multidispositivo – colocar no mercado um produto para ser consumido tão somente em uma única plataforma não parece fazer muito sentido. Isto é, o modelo de criar publicações exclusivas para tablets seria falho.
Um dos mais recorrentes críticos desse modelo é o futurista e analista de mídia Gerd Leonhard. Para o pesquisador, não é prudente transferir para uma aplicação móvel a lógica de banca de revista de preço/venda por unidade. As pessoas não pagam por conteúdo, mas por contexto, conveniência, comunidade e conectividade. Algo que vai além de “cópias por unidade de conteúdo”.
Para mim, produzir um produto editorial exclusivo para um único dispositivo não faz muito sentido por outros motivos. Simplesmente porque essa estratégia deixa de lado o fato histórico de que a internet é a única plataforma de comunicação e distribuição de conteúdo que, desde o inicio, foi desenvolvida e conceituada para estar embutida e ser acessada de qualquer dispositivo.
A esta altura do campeonato, criar uma publicação exclusiva para iPad é como lançar um programa que pode ser visto somente na TV ou um site que apenas pode ser acessado do desktop (não tem versão móvel).
A edição 2012 do relatório State of News Media, sobre tendências na área de mídia e tecnologia, mostra isso com mais detalhes. Segundo o estudo, quem apostava que as pessoas migrariam para um único dispositivo – do desktop para o celular -, se deu mal.
Na realidade, as pessoas estão passando a utilizar diversas plataformas ao mesmo tempo – smartphones, tablets, laptops, desktop. Ou seja, as pessoas não consomem conteúdo apenas nos tablets, mas em vários dispositivos. Elas absorveram naturalmente o conceito de que a internet é “device agnostic“.
Não é à toa que tecnologias que dão a base para esse conceito vêm ganhando popularidade, como cloud computing, que permite que um conteúdo seja acessado de, praticamente, qualquer dispositivo, e responsive design, que possibilita ter uma experiência mais unificada em todos os dispositivos.
A tendência é que, após o baixo retorno de publicações criadas exclusivamente para iPad, a indústria de mídia absorva melhor o conceito de “device agnostic“.
Veja também: Back-end do jornalismo deve estar em constante transformação
Deixe um comentário