A Volkswagen divulgou nas últimas semanas um vídeo conceitual de um “carro flutuante” que, segundo a montadora, será o veículo do futuro. Tem tudo o que é comum em vídeos do gênero – um conceito pretensamente futurista, um design questionável de produto, além de diversos figurantes de queixo caído.
Mesmo com esses detalhes, o que tem chamado a atenção do pessoal é que o vídeo se passa na China e é protagonizado por atores chineses.
Não há motivo para se impressionar.
Primeiro, o vídeo é resultado de um concurso de ideias realizado pela Volkswagen chinesa. Segundo, se o carro do futuro existir, certamente virá de algum país asiático. A previsão é que o mercado de carros elétricos, por exemplo, crescerá muito mais rápido na China do que em países ricos. O motivo não é somente econômico e político – o governo chinês anunciou há 3 anos que quer se tornar o primeiro país a adotar em massa carros movidos a eletricidade.
A China é hoje o país que melhor reflete uma das dinâmicas mais presentes nos fluxos internacionais de inovação. Tecnologias que são consideradas “imaturas” ou “de adoção lenta” no topo da pirâmide estão alcançando fácil e rápida aplicação em sua base, nas nações emergentes.
Para a emergente classe média chinesa, que nunca teve um automóvel, adotar um carro elétrico é bem menos assustador. Não existe um custo de troca nisso. É bem diferente da situação dos consumidores americanos e europeus, os quais pensariam duas vezes antes de migrar para carros movidos a eletricidade.
Esse tipo de situação não é nova. Aconteceu algo parecido com os celulares há mais de uma década. Em comparação com os países desenvolvidos, nos emergentes, a tecnologia móvel foi incorporada rapidamente, superando a eletricidade.
Nos países desenvolvidos, onde havia uma tradição e onipresença de linhas fixas, o processo se deu de forma mais gradual. A priori, a telefonia sem fio e móvel era vista como desnecessária, não urgente, e havia um certo “custo de troca” em adotá-la
O professor de inovação Vijay Govindarajan, autor de Inovação Reversa, é até mais radical nessa visão sobre fluxos de tecnologia e países emergentes. Segundo ele, se você produz uma tecnologia de ponta, deve se focar nos emergentes, pois, ao contrário do senso comum, a população desses países tem mais flexibilidade e menos entraves em assumir uma nova tecnologia. Por entraves entenda-se custo de troca e limitações herdadas de sistemas anteriores.
Se Govindarajan estiver correto, o “carro flutuante” virá mesmo da China.
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