Grandes conexões geram grandes responsabilidades

Uma doença grave ou a morte de um ente querido sempre nos faz puxar o freio de mão e repensar a vida. Para algumas pessoas, o efeito pode ser maior, não somente por ser um fator de fortalecimento, mas de busca de um maior autoconhecimento.

Para a cineasta Tiffany Shlain, criadora do Webby Awards (o Oscar da internet), o câncer de seu pai e uma gravidez de risco a fez repensar a respeito de suas conexões com as outras pessoas. O que significa no século XXI estar conectado?

Essa divagação resultou no documentário Connected: an autobiography about love, death and technology, que estreou neste mês em São Francisco, nos EUA, mas que foi exibido em primeira mão no Brasil, durante o Digital Age 2.0, evento que aconteceu nesta semana em São Paulo.

Shalin mostra o quanto estamos e estivemos conectados ao longo da história.

A Segunda Guerra Mundial, por exemplo, fez surgir a Guerra Fria anos depois, que, por sua vez, foi a incubadora para o surgimento da internet, que, tempos após, iria afetar diversas pessoas.

Connected é uma continuidade dos estudos do pai da cineasta – Leonard Shlain, escritor de best-sellers como The Alphabet versus the Goddess e um dos pesquisadores defensores da teoria dos dois hemisférios do cérebro – um racional (masculino) e outro emocional (feminino).

Segundo o escritor, o mundo muda dramaticamente dependendo do quanto o nosso pensamento é dominado por qual parte do cérebro.

Por muitos anos, a nossa sociedade supervalorizou apenas um lado do cérebro. Depois do surgimento do alfabeto e de outras formas de escritas, por exemplo, o pensamento masculino, mais intelectual e racional, tornou-se o padrão.

A internet, ao contrário, nos leva a uma nova maneira de pensar que estimula ao mesmo tempo as partes intelectuais e artísticas de nosso cérebro. Ou seja, estimula o uso do cérebro de forma integrada, o que representa uma grande evolução para o ser humano.

Para a cineasta, essa seria a grande mudança trazida pela internet. Integrar os dois hemisférios do cérebro, unindo arte e ciência, em escala e volume global.

Portanto, esqueça aquela visão mais crítica da internet, de que, ao mesmo tempo, que ela fortalece democracias, potencializa ditaduras pelo mundo.

Shlain tem uma visão bem otimista. Por si só a tecnologia é positiva.

Apesar desse ponto de vista, a cineasta é adepta do “Technology Shabbat“. Uma vez por semana, às sextas-feiras, sua família fica desconectada das mais recentes tecnologias de comunicação.

É um dia para ficar offline. Shlain conversa melhor com as suas filhas. Seu marido tem mais tempo para ler um livro. A cineasta cuida mais de si mesma.

Connected é uma mistura de três histórias: a do Shlain pai, da própria Shlain e de todos nós.

Um dos pontos altos do documentário é a sua estética. O filme remete a vídeos que estamos acostumados a assistir na web – uma colagem de images retiradas da internet misturadas a animações e uma narração em off.

Somente 2% de Connected é formado por filmagens. O resto são colagens, animações e vídeos pessoais da cineasta.

Shlain utilizou uma dinâmica comum para quem produz vídeos amadores para a web. Durante o processo de produção, a cineasta ia até um mecanismo de busca e selecionava imagens que eram relacionadas a uma determinada palavra citada no texto em off.

Além da estética de “vídeo para a internet”, Connected quebra a barreira entre público e privado. Shlain mistura suas teorias à sua vida pessoal, temas pessoais e privados andam juntos, semelhante a textos publicados em blogs. Não é à toa que a própria cineasta rotula o filme de autoblogography (algo como autoblogografia).

A meu ver, Connected é uma releitura do conceito de “efeito borboleta” (pequenas ações podem causar grandes resultados), além de algumas ideias do naturalista e filósofo John Muir (o homem está interligado a todas outras espécies da natureza, que atua como uma “casa” para todos nós). Aliás, uma frase de Muir é citada no início e no fim do documentário.

Mesmo sendo uma leitura de teorias já existentes, Connected tem o seu valor, principalmente, porque, nas entrelinhas, faz um alerta sobre o quanto estar mais conectado gera mais responsabilidades. O que fazemos aqui pode ter grandes repercussões em uma pessoa que está a poucos graus de separação da gente.

Alianças de mercados estão cada vez mais acima de hierarquias, decisões externas afetam bem mais as internas e viceversa, redes de comércio estão mais interligadas, temos respostas às nossas ações quase que “em tempo real”.

O fato de estarmos mais conectados gera muitas oportunidades, mas também uma responsabilidade maior a respeito do que fazemos.

Enfim, quanto mais (inter)conectados, maior o efeito e a responsabilidade de nossas ações.

Veja também: Estamos “cadastrados” em redes sociais desde pequenos

Uma resposta para “Grandes conexões geram grandes responsabilidades”.

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