O serviço público de correio americano está em crise, decreta matéria do NYTimes.
O US Postal Service não foi capaz de competir com empresas privadas, como Fedex e UPS. Para se ter uma ideia, no correio americano, a mão-de-obra é responsável por 80% dos custos, enquanto que nas empresas privadas fica entre 30 e 50%.
O déficit da empresa chegou a 5,7 bilhões de dólares nos primeiros meses do exercício 2010/2011.
É claro que a internet tem uma “meia culpa” na crise. Em parte, o serviço tornou-se obsoleto.
O email funcionou como tecnologia disruptiva no mercado de entrega de correspondência. Basta lembrar que, no começo dos anos 90, em algumas universidades americanas, o email era lembrado como “um treco que permitia economizar dinheiro com telefonemas e cartas”.
No entanto, a crise no correio americano pode ser reflexo de algo que a gente se acostumou a ver. Na Era Digital, muitas empresas quebram por confundirem serviço com tecnologia.
Durante a passagem dos átomos para os bits, muitas empresas entraram em crise de identidade. A Kodak, por exemplo, não se decidia se estava no negócio de memórias visuais (serviço) ou de filmes para câmeras fotográficas (tecnologia utilizada na época). A Kodak demorou muito para perceber que a sua competência central (o que ela faz de melhor) era memória visual, registrar bons momentos de nossas vidas. Em outras palavras, a empresa confundiu serviço com a tecnologia utilizada.
Na área de jornalismo, algumas empresas estão aprendendo isso na prática. Em 2009, em um memorando interno, a diretoria do NYTimes decretou que a competência central da empresa era informação, não importando a plataforma. O negócio deles era produzir e entregar informação relevante e não fazer jornal de papel. Ou seja, a empresa tentou separar serviço de tecnologia.
Mesmo em empresas de tecnologia a gente percebe essa dinâmica. O mérito de Steve Jobs não foi lançar o iPod ou o iPhone, mas sim descobrir a competência central da Apple (usabilidade e design) e aplicá-la em diversos mercados. Separou a tecnologia utilizada da missão tecnológica da Apple. Vide o que aconteceu quando a Apple aplicou o que ela faz de melhor (usabilidade e design) no mercado de música – iPod e iTunes, produtos que se tornaram sucesso.
Além de ser reflexo do fosso atual entre serviços públicos e privados, talvez falte ao correio americano fazer uma análise: O que fazemos melhor? Não estamos confundindo serviço com a tecnologia utilizada, caindo no mesmo equívoco da indústria fotográfica?
Veja também: Apple continua educando a audiência
Crédito da foto: RSMS

10 respostas para “Correio americano em crise. Internet tem culpa”.
O Correio brasileiro segue na mesma linha decadente.
O comércio eletrônico cresce em níveis espetaculares e a Empresa Brasileira de Correios e “Telégrafos” se desdobra para entregar todas as encomendas.
Me lembro do tempo em que o nosso Correio era descrito pela população como “um dos poucos exemplos de empresa estatal que funciona”.
CurtirCurtir
O termo mea culpa está aplicado corretamente?
Creio que seja usado como sinônimo de “eu assumo a culpa” ou “minha culpa”, mais literalmente. Acho que “meia culpa” seria mais lógico nesse texto.
CurtirCurtir
@Countzero
Eu usei o termo no sentido popular. Mas fiz a modificação para evitar qualquer mal entendido.
CurtirCurtir
No Brasil é proibido por lei concorrer com os Correios até hoje.
Fosse diferente o nosso serviço de correio hoje já teria sucumbido, já que presta um serviço muito aquém da reputação que ostenta há décadas. Enfim, conseguiram acabar com os correios brasileiros, mas se mantém por aparelhos.
Diferente do modelo americano, onde a livre concorrência está matando a estatal.
CurtirCurtir
Talvez o comentário não seja tão pertinente nesse espaço, em que você analisa novas tecnologias de informação. Mas o fato de o serviço postal público americano gastar 80% de seus custos com mão de obra, enquanto o serviço privado gastar até 50% pode significar muitas coisas, inclusive que o salário na rede privada é bem mais baixo. Ou seja não é um mérito do serviço privado, e nem cabe ao governo (seja ele em qual esfera for, já que não sei como funciona nos EUA) rebaixar os salários para que o serviço se torne menos oneroso.
Abs
CurtirCurtir
@DouglasNascimento,
Ao contrário do que você falou, aqui no Brasil o mercado de entrega de encomendas não é monopólio dos Correios. Basta olhar ao redor e ver a enorme quantidade de transportadoras, de todo os tamanhos e origens, que atuam no Brasil.
O que é monopólio é a entrega de correspondências comuns. Mas, quer saber, esse é um mercado do qual as empresas privadas só querem o “filé”, que é a captação e a entrega nas capitais. Ou você acha que entregar qualquer coisa no interior do Amazonas, por exemplo, dá lucro?
Antes que eu esqueça: em mais de 90% dos países existe algum tipo de monopólio postal estatal.
CurtirCurtir
Tiago Dória, eu fugirei um pouco desse tema da “tecnologia de ponta” e seus efeitos para quem a adota e pratica ou não, porque também, ainda vejo no correio um serviço indispensável, veja por exemplo, a correspondência com o AR ( aviso de recebimento) por demais usada entre os advogados ou então o envio de notícias de lugares distantes por parentes coisa como: …fulano não vive mais… neste inverno está chovendo etc. Ademais os selos pois existem até os Filatelistas ( colecionadores de selos ) vindos de todo o mundo e estes selos abordam inúmeros assuntos são uma enciclopédia. Para os que assim vêem o correio a coisa tecnológica é indispensável, porém, para as grandes indústria no fogo cruzado da competição até faz sentido um questionamento “up to date”,mas desconfio que falta também pessoal habilitado que domine as novas técnicas digitais.
CurtirCurtir
Dito: “O Correio brasileiro segue a mesma linha”. É uma observação ignorante.
Como segue essa linha – queda no faturamento/endividamento – se a ECT vem faturando cada vez mais a cada ano? Basta olhar os lucros dos últimos 10 anos. O resultado divulgado em julho desse ano, aponta para R$ 500 milhões só no primeiro semestre, sem somar a fatia de concessão paga pelo BB (2,3 bilhões) pelo uso do Banco Postal.
Zelar pela transparência e eliminar o aparelhamento político, aí sim teremos uma estatal lucrando sob a luz da eficiência.
CurtirCurtir
@ Luiz Neto
Acho que me expressei mal, para encomendas não, mas para cartas, cobranças etc sim é proibido.
CurtirCurtir
Tente mandar pela Fedex uma encomenda para uma pequena cidade do interior. Verá o quão “eficiente” é uma empresa privada. É fácil ser eficiente transportando para as capitais e só mercadoria/encomenda de alto valor agregado.
CurtirCurtir