A internet é o único meio onde o conteúdo não fica amarelado ou embolorado em uma fita na gaveta. O conteúdo é perene. Ou, como melhor diria Erica, fictícia namorada de Mark Zuckerberg, no filme “A Rede Social” – as coisas na internet não são escritas a lápis. Dificilmente, você consegue apagá-las.
A repercussão do caso Wikileaks deixa essa característica da internet bem evidente. Tenta-se tirar o conteúdo do Wikileaks do ar, mas ele continua na rede, espalhado e eternizado em todos os cantos da web. Ou seja, os telegramas vazados pelo Wikileaks ficarão eternamente na rede. Lembra-se quando tentaram tirar o vídeo da Cicarelli do YouTube, mas ele sempre reaparecia em algum lugar?
O que alguns leitores mais atentos do blog já fizeram por email foi uma ligação entre uma “frase da semana” publicada por aqui, e os recentes ciberataques feitos por ativistas pró-Wikileaks contra sites governamentais e das empresas Amazon, Visa e Mastercard.
Há duas semanas, Alex Shipp, especialista em segurança online, disse que “estamos vivendo na era da guerra cibernética, onde os ataques podem ser feitos globalmente por qualquer pessoa em qualquer local”. E o que estamos vendo é quase uma ciberguerra, com sites sendo derrubados a todo momento e perfis pró-Wikileaks em plataformas de redes sociais retirados do ar.
Mantenho a mesma posição em relação ao Wikileaks, quando a organização vazou dados sobre a atuação do exército americano no Afeganistão. Ninguém sabe com 100% de certeza o que é o Wikileaks e como ele realmente funciona, menos ainda os seus interesses. Agora, então, ficou mais difícil ter esse conhecimento com a onda de informação e contrainformação criada em torno do caso.
Acredito que, com os ciberataques, o maior prejudicado será o próprio Wikileaks. Somente agora muita gente está conhecendo a organização, que existe desde 2006. E, para um público mais amplo, a impressão que pode ficar é de uma organização ligada a ciberataques e crackers.
Aliás, imagem da qual o próprio Wikileaks quer se afastar o mais rápido possível. Em entrevista à ABC da Austrália, os advogados de Julian Assange, fundador do Wikileaks, fizeram questão de afirmar que a organização não tem qualquer ligação com os ciberataques.
Segundo eles, o Wikileaks não é um “grupo cracker“, mas uma organização de mídia.
Pelo andar das coisas, penso que dificilmente NYTimes, Guardian e Der Spiegel manterão a parceria que tinham com a organização e que ajudou a escrever um dos capítulos mais interessantes da recente história do jornalismo em base de dados.
Inocente ou não, irresponsável ou não, o Wikileaks termina a semana com a imagem arranhada.
Veja também: Economist e o fim da universalidade da internet


11 respostas para “Wikileaks escancara perenidade do conteúdo na web”.
Imagem arranhada? Pra quem? Nunca vi um grupo receber tanto apoio! E tanta gente e engajar nesse apoio! Arranhada pra quem? Pros EUA? Pras grandes corporações? Nossa, que importante!
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Antes deste caso, o Wikileaks era visto como uma organização de mídia, neutra, agora é, de certa forma, associada a uma certa ideia de anti-americanismo.
O trabalho em conjunto com Guardian e NYTimes é importante sim. O próprio Assange já deu a entender que o Wikileaks não faz muita coisa sozinho.
E desconfio até onde vai efetivamente essa onda de apoio ao Wikileaks. A Wikipedia também é "apoiada" por muita gente e é obrigada a fazer campanha para pagar as contas dos servidores.
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Apoiar e financiar são duas coisas bem diferentes.
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Com certeza, Raphael. Mas acho que já estava na hora dessas ondas de apoio se transformarem em coisas mais concretas 😉 abs
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Nesse ponto eu concordo totalmente. Falta essa cultura, esse costume. Há a idéia de que a internet é grátis e ponto, mas todo projeto precisa de dinheiro pra viver. A diferença estar em ser forçado a pagar e simplesmente doar por gostar do projeto.
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O governo americano faz o que faz com o dono do wikileaks e quem sai arranhado é o site? Desculpe, Dória, mas o que me conforta é que a mudança em curso no mundo a partir da criação da internet não tem volta. Podem resistir ao inevitável, mas o futuro já começou. Por mais ingênuo que possa parecer falarmos em revoluções, toda a sociedade passa de tempos em tempos por uma. E a próxima será globalizada e iniciada na rede.
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Os governos de vários países também sairam com a imagem arranhada. Tanto que o dos EUA vai proibir o uso de mídias físicas http://techcrunch.com/2010/12/09/us-military-bans… . Eu não escrevo no texto que a imagem deles é positiva. O problema para a imagem do Wikileaks não é o vazamento em si, mas a associação com os ciberataques. Tanto que os ativistas pró-Wikileaks mudaram o foco dos protestos. A ideia agora é publicar os documentos do Wikileaks em todos os cantos possíveis da rede. Algo mais positivo e que vai atrair a atenção para o que interessa – os documentos.
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Olá, Tiago. Sempre comento no seu blog e gosto muito dele, mas hoje compartilho da estranheza do teor deste post. Acho que tudo que está acontecendo está um tanto além de imagem arranhada ou não. Como disseram acima, basta ver o grande apoio que estão recebendo. Imagino que quem está ficando com a imagem arranhada são os que estão contra o WikiLeaks e querem barrar suas atividades/discussões.
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Com certeza, @zelenski. Existem coisas muito além do que a questão da imagem – política internacional, liberdade de expressão, perenidade do conteúdo etc. Os EUA saíram como uma imagem bem ruim. Mas os 5 últimos parágrafos do texto são de que, para a imagem do Wikileaks perante um público mais leigo, os ciberataques talvez não tenham sido a melhor resposta. Tanto que as empresas atacadas não mudaram a posição contra o Wikileaks e, talvez por isso, os ativistas pró-Wikileaks resolveram adotar uma postura bem mais positiva – cessar os ataques e divulgar os documentos em vários cantos da rede. Ou seja, mostrar na prática que a tentativa de calar o Wikileaks é inútil.
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Olá, Tiago. Comentários tornam-se bons por permitir perspectivas diferentes sobre um determinado assunto, e no post em questão, o que deixou a impressão foi que, os ataques à aqueles que estavam contra o Wikileaks, como o Paypal, Visa, etc, reverteriam perante a opinião pública o que de fato é importante, que é o conteúdo dos documentos vazados, e qualquer ação com cunho de "protesto" (pois não é por simplesmente atacar sem propósito) torna-se ilegítimo.
Espalhar o conteúdo replicando pela Web não garantiria o que realmente se quer dizer, que a ação de prender o fundador do Wikileaks por razões políticas com base em uma denuncia estapafúrdia não seria aceito e manteria calado aqueles que querem que seja garantida a liberdade de expor conteúdos que são de interesse público.
Tem que se fazer um pouco de barulho para chamar a atenção para o foco principal.
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Fala Tiago, não sei se sai com a imagem arranhada não, muitos estão vendo eles como um justiceiro da democracia, inclusive o Presidente Lula: http://www.youtube.com/watch?v=_No3PuIiJ4Q
Abraços,
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