Reinventando o PC

Antes de apresentar o seu superestimado iPhone 4, Steve Jobs, cofundador da Apple, esteve na conferência D8, promovida pelo Wall Street Journal. O evento teve um pouco de tudo. Um Mark Zuckerberg TENSO, apresentação de tablet educacionalAlan Mulally, da Ford, falando sobre a possibilidade de instalarmos aplicativos nos carros, igual a um smartphone, além de Jobs declarando o fim do PC ou talvez do computador como o conhecemos.

Para variar, a declaração do cofundador da Apple foi vista apenas como uma cutucada na Microsoft, uma provocação barata. Não somente no Brasil, mas lá fora ainda existe, de forma geral, o vício de cobrir tecnologia como se fosse futebol – quase tudo acaba se resumindo a Apple vs Microsoft, Google vs Microsoft, blogueiros vs jornais, alguma coisa vs outra coisa.

Porém, a questão é mais ampla. A afirmação de Jobs de que PCs estão se tornando “caminhões” (ou seja, uma coisa grosseira) ecoou de forma diferente em parte da web.

Logo que li a frase lembrei de uma provocação do pesquisador Nicholas Carr. No começo deste ano, Carr afirmou que estava nascendo uma nova era na computação pessoal e lembrou que ainda produzimos computadores como se eles fossem utilizados somente por geeks.

Enquanto usados apenas por geeks, tudo bem computadores necessitarem de instalação, atualização constante de antivirus e firewall ou ainda a digitação de linhas de comando, mas depois que passaram a ser utilizados por “simples mortais”:  as coisas mudaram de  figura.

Hoje, computadores pessoais não são mais utilizados somente por “entusiastas de tecnologia” e menos ainda somente para trabalho. Segundo Carr, atualmente queremos fazer uma infinidade de coisas com um computador. As expectativas são outras em relação aos PCs.

Ou, em outras palavras, seria o que mostra Deyan Sudjic, diretor do Design Museum de Londres, em seu livro A Linguagem das Coisas – computadores deixaram de ser “ferramentas científicas” para se tornarem objetos de consumo.

Neste sentido, o que é mais intuitivo e humano – manipular um mouse ou utilizar toque de mão na tela para controlar um computador?

Quem gostaria dessa discussão seria Michael Dertouzos, professor do MIT. Em seu livro A Revolução Inacabada (leitura recomendada), o pesquisador dizia que a chamada revolução digital começaria somente a partir do momento em que utilizar um computador seria tão simples e intuitivo quanto ligar uma TV ou usar um fogão. Os tablets seriam o início disso? Por que um computador não pode ser simples e menos técnico quanto utilizar um carro ou uma TV?

Veja também: O fim da internet como a “Terra Prometida”

Crédito da foto: mandyxclear

26 respostas para “Reinventando o PC”.

  1. Ótima análise como sempre… viu isso? vai ao encontro do post. http://www.newsweek.com/blogs/techtonic-shifts/20

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    1. Obrigado, João. Não tinha visto. Tem a ver mesmo com o post.

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  2. Mais simples do que ja é impossivel.

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    1. Discordo. O uso de telas multitouch prova que é possível ser mais simples. Mouse exige um certo grau de aprendizado.

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      1. Concordo que ainda há muito o que simplificar, mas as telas "multitouch" exigem um grau de aprendizado ainda maior que o mouse. Pelo menos na minha percepção, baseado também em quem já vi utilizando e pedindo pelo amor de deus uma tecla ou mouse hehe.

        É verdade que o PC já se tornou um eletrodoméstico. Na prática, é vendido ao consumidor leigo como se fosse só chegar em casa e ligar na tomada. Aí começam os problemas.

        Lembrei agora do que ocorre com os celulares, que vão na contramão disso tudo. Ao invés de facilitar, cada vez mais complicam a utilização.

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      2. Lembro do Windows 3.1 e seu Wintutor para ensinar a usar o mouse 😛

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    2. Observe a forma que você usa o mouse. Manipular um objeto para que os gestos sejam repetidos na tela. Não é mais direto você levar o dedo até a tela? É o que intuitivamente o ser humano faz isso desde pequeno e as mães se esforçam para desensinar: “É feio apontar!”

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  3. Se computadores viraram "objeto de consumo", então a Apple saiu na frente…

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    1. No livro, ele usa o exemplo da Apple.

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  4. Problemas com anti-virus, browsers desatualizados e coisas parecidas com isso são decorrentes dessa posição de "computadores feitos para geeks". Ninguém de verdade se importa com isso até que alguém avise.
    Nunca tinha pensado nesse sentido e acho que é bem verdadeiro, bela análise.

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  5. Então. Está tudo ficando multimídia, multiuso, né? O PC vai "morrer" assim como "morreu" o iPod Classic. O desk parece que vai estar mais associado ao conforto do que a necessidade de ter um PC em casa.

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    1. Morrer acredito que não, mas talvez tenhamos "caminhões" e "carros" no mercado 🙂

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    2. Morrer acredito que não. Mas haverá espaço para "caminhões" e "carros" no mercado 🙂

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      1. É, exatamente. Coloquei entre aspas pq é que nem o iPod. O iPod Classic é muito bom, mas não lançarão novos modelos seguindo a mesma funcionalidade. O iPod Touch o substituiu muito bem, pq além de iPod, é videogame, é internet. Acho que o próprio iPod Nano não deve ter novas versões. Qual é a vantagem do Classic? Ter um espaço de 160 Gb? Mas a tendência não é que se tenha cada vez mais conteúdo em nuvem? Esse espaço vai se tornar inútil, de certa forma. Acho que o mesmo ocorre com o PC que conhecemos hoje. Ele está "evoluindo pro iPod Touch" 🙂

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  6. Análise interessante, visionária e provocativa, no meu entender existem duas frentes de avanços: 1ª- da nova concepção de hardwares, no sentido de simplificação; 2ª- o da modificação do perfil do usuário, através da educação. A insistente cobrança profissional e acadêmica tem tornado o usuário mais técnico, hoje, não saber lidar com um PC, por exemplo, é quase um tipo de analfabetismo. O novo caminho talvez seja a interseção dessas duas curvas, quem sabe a quebra dos conceitos que estão por aí…

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  7. É bom lembrar que os sistemas telas de multitoque são nova estão saindo agora isto vai demorar bastante para chegar na mão de todos, portanto pc e os notebooks serão por muito tempo referencias para muitos, o que vejo aqui é papo cabeça de quem pode comprar celulares multimidias, ipads e bugigangas de alto poder tecnológico. Este produtos é poucos sabemos disso!!!!

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    1. Uma pena. Uma discussão tão interessante sobre a interface homem-computador e você acha que tudo se resume a quem tem dinheiro ou não para comprar produtos caros.

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  8. Boa abordagem, parabéns!

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  9. […] é uma questão apenas de RP. Além disso, a Apple passou a tratar computadores como objeto de consumo e não uma “ferramenta científica”. Existe também a teoria, não confirmada, de que […]

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  10. […] executivo acredita que a Microsoft deve se preparar para a era pós-PC, o que, segundo ele, seria um mundo com serviços centrados nas nuvens (cloud computing) e de […]

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  11. […] Pelo visto, a ideia central é que o computador vá muito além da tradicional tríade tela, teclado e mouse e seja capaz de reconhecer o que está a sua volta – localização, gestos, sons, temperatura, outros dispositivos. Ou seja, vai ao encontro de algumas ideias apresentadas em Dawn of a New Day, documento escrito por Ray Ozzie, no qual o executivo aborda a “Era Pós-PC“. […]

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  12. […] ratificou essa visão em março deste ano ao afirmar, durante o lançamento do iPad 2, que a Era Pós-PC já havia […]

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  13. […] uma missão. Em 1996, ele retornou à Apple com a visão de transformar os computadores pessoais em objetos de consumo, em objetos que não fossem utilizados somente por especialistas, mas que pudessem ser tão […]

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  14. […] Ter transformado computadores em objetos de consumo, em objetos que não fossem utilizados somente por especialistas, mas que pudessem ser tão […]

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  15. […] Ter transformado computadores em objetos de consumo, em objetos que não fossem utilizados somente por especialistas, mas que pudessem ser tão […]

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