Google Buzz é o "Facebook Beacon" da Google

Se não é, está quase lá.

Facebook Beacon é um sistema de “publicidade contextual” implementado em 2007 pelo Facebook, mas que logo foi desativado por expor a terceiros sem autorização dados pessoais dos usuários da rede social. O Facebook foi acusado de violação de privacidade e obrigado a pagar indenizações.

Além de virar “case” sobre “privacidade online”, o Beacon serviu de lição para os gerentes da rede social. Não é sem motivos que, hoje em dia, como padrão, novas funcionalidades que envolvam exposição de dados pessoais já nascem desabilitadas. Você ativa se quiser.

Lançado há mais de uma semana, o Google Buzz é um dos produtos da Google que mais foi criticado em seu lançamento e também um dos que mais sofreu modificações em pouco tempo.

Tudo por causa do problema de falta de privacidade.

Criado como um complemento ao Gmail, na visão da Google, o Google Buzz seria uma “rede social”. Na primeira vez em que você conectava, seguia e era seguido automaticamente por seus contatos de email. Ou seja, o Buzz já nascia com uma base de usuários (criada de forma forçada). A empresa fez isso por que supostamente acreditava que uma rede social somente é atraente quando o usuário tem um monte de contatos.

Um dos inúmeros problemas dessa integração forçada foi que o Buzz expôs publicamente toda a agenda de contatos de emails de cada usuário.

Para jornalistas, por exemplo, foi um pesadelo. Era possível saber com quais pessoas (possíveis fontes?) o jornalista mais trocou mensagens de emails nos últimos tempos.

A chiadeira não foi sem motivos.

Nicholas Carlson, editor do Business Insider, conta detalhes dos bastidores do caso. Segundo ele, gerentes de produto e engenheiros da Google tiveram que ficar de prontidão para dar uma resposta imediata às críticas que não paravam de chegar. O Buzz se tornou uma prioridade interna.

Em questão de horas, a empresa implementou um link no rodapé do Gmail, que permitia desativar o Google Buzz, o que se mostrou inútil na medida em que você ainda continuava na rede do Buzz com todos os seus contatos de email expostos.

Depois, lançou a opção de bloquear contatos, impedir que seus contatos ficassem públicos até que, na última quarta-feira, foi lançada uma opção de apagar todo o seu histórico no Buzz, inclusive mensagens e contatos que foram adicionados.

Mas já era tarde, o estrago já estava feito.

A lista de contatos de email de diversos usuários foi exposta.

Depois do burburinho na web, a questão promete ir para o lado jurídico. O caso já chamou a atenção do Escritório da Comissão de Privacidade do Canadá e da Comissão de Comércio dos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, a Google foi alvo de uma ação coletiva de usuários.

Não é a primeira vez que um produto da Google é atacado em seu lançamento devido a questões de privacidade. Quase sempre quando a empresa de busca lança um produto, as reclamações sobre privacidade partem de governos, preocupados com prédios públicos e bases militares que estão visíveis em mapas da Google, por exemplo.

Críticas que, durante anos, ajudaram a criar a imagem de resistência da empresa, que “faz e acontece” e “enfrenta sem medo” governos. A escritora Janet Lowe, em seu livro Google, até brinca com isso ao afirmar que o setor jurídico é o que mais trabalha na Google.

A diferença é que, desta vez, as críticas estão partindo quase que exclusivamente dos maiores defensores da empresa – seus próprios usuários.

Algo bem ruim para uma empresa gerenciada por um diretor geral, Eric Schmidt, que, em 2007, disse que a Google depende exclusivamente da confiança do usuário. “Seria um desastre para a empresa se essa privacidade (confiança) fosse comprometida”.

Pelas críticas que a empresa recebeu na última semana, deu para perceber que a lua-de-mel da Google com a imprensa especializada acabou faz tempo (situação bem diferente dos anos de 2006 e 2007 quando existia uma nítida admiração por parte da imprensa).

Para a Google, acredito que fica a lição imediata de não subestimar duas coisas. Primeiro, o “feedback externo” (ao que tudo indica, a Google teria sido negligente ao não fazer testes suficientes com pessoas de fora da empresa). Segundo, a preocupação de seus usuários com a privacidade. Está certo que, hoje em dia, em algumas áreas, privacidade às vezes parece uma palavra meio deslocada, mas não é bem assim. Nem 8 nem 80.

Para nós, usuários, fica o alerta sobre o quanto a Google tem dados pessoais nossos que podem ser expostos em um simples erro de implementação de um produto.

Independente do que aconteça daqui para frente com o Buzz (se torne um sucesso, mude tudo e vire outra ferramenta), ele entra para a história como o mais desastroso processo de lançamento de um produto feito pela Google.

Atualização às 21h (19/02) – Em um encontro com jornalistas e autores de blogs, Mike Yang, do Conselho de Privacidade da Google, admitiu erros no lançamento do Google Buzz.

Veja também:
Dá para fuçar o DNA da Google?

Crédito da foto: Máximo Gómez Santos

8 respostas para “Google Buzz é o "Facebook Beacon" da Google”.

  1. oi, tiago!

    muitíssimo obrigada pelo post! não conseguia descobri onde “desligar”.

    escrevo mesmo para que veja a mensagem ameaçadora para a opção “disable google buzz”:

    “Tem certeza de que deseja excluir o seu perfil do Google e as postagens do Google Buzz? Você está prestes a excluir seu perfil público, inclusive qualquer buzz criado e as configurações dos sites conectados. As informações do seu perfil pessoal serão permanentemente removidas do nosso sistema. (…) Cuidado Essa ação não pode ser desfeita”

    eles podiam ser mais lights, período de testes… isso que sou a típica fã dos labs… enfim.

    um abraço e bom final de semana.

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    1. @ana rüsche

      É verdade, Ana.
      Aliás, acho que o Google Buzz deveria ter nascido e permanecido no Google Labs antes de estar disponível nas contas do Gmail.

      Abs e bom final de semana para você também!

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  2. […] Google Buzz é o “Facebook Beacon” da Google – Tiago […]

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  3. Excelente o texto. Mostra de forma clara o problema da privacidade e onde se deu o problema com o lançamento desta nova ferramenta, que na verdade foi uma gambiarra para Gmail mal pensada.
    Abs.

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  4. O Buzz foi um bocado puxado demais… e depois havia aquela questão da privacidade, que também existe no Facebook, mas talvez não da mesma maneira. Acho que quem se mete em redes sociais tem sempre aquela questão da privacidade para enfrentar, em que os nossos gostos e interesses dos nossos perfis são coleccionados e é feito um perfil nosso para que os anúncios dessas redes sociais sejam segmentados de acordo com os interesses, idade, etc..

    Heh, e o logotipo do buzz parece tal e qual o do Uno…

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  5. […] A empresa de busca sofreu um processo por violar a privacidade de diversos usuários com o lançamento desastroso do Google […]

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