
Enquanto a gente ainda se deslumbra com as reviravoltas do dito jornalismo-cidadão, uma tendência no jornalismo começa a ganhar mais espaço – o “offshoring journalism” ou o “outsource journalism“.
Em português simples, seria “jornalismo terceirizado”. Na prática, é contratar jornalistas indianos para fazerem o mesmo trabalho de profissionais nos EUA, por exemplo.
A idéia não é descabida. Com os jornalistas permanecendo cada vez mais tempo ao telefone e nas redações e o jornalismo se tornando cada vez mais um trabalho de edição, algumas empresas de mídia começam a ver com bons olhos a tendência. O principal interesse é a redução do custo da mão-de-obra.

O LostRemote publicou, neste final de semana, uma lista de possíveis empregos para “outsourced journalists”. Vai desde editor de vídeo e, com essa onda toda de “mídia social”, a moderador de comentários e de “conteúdo gerado pelo usuário”.
Quer ver alguns exemplos práticos do “offshoring journalism”?
1) O Pasadena Now, nos EUA, contratou dois jornalistas neste mês – um em Mumbai e outro em Bangalore, na Índia – para cobrir as audiências do conselho municipal local, na Califórnia, que são transmitidas pela web.
Enquanto os seus editores dormem deste lado do mundo, os dois estão escrevendo e editando as matérias. A idéia é contratar mais 6 “outsourced journalists”.
2) Desde 2004, a agência Reuters – uma das primeiras grandes empresas de mídia a trabalhar com “offshoring journalism” – mantém 12 jornalistas em Bangalore, na Índia, para editar informações financeiras que são enviadas para 2 mil empresas nos EUA.
3) A CyberMedia, editora indiana que existe desde 1982, se uniu, em 2005, à norte-americana CMP Media para formar a CMP-CyberMedia LLC, especializada em trabalhar e fornecer conteúdo e serviços para o mercado global, mas com mão-de-obra local [na Índia].
4) Mas um dos melhores exemplos é a Trombly, localizada em Xangai, e que, desde o ano passado, trabalha para diversas publicações nos EUA. Direto da China, cobre para os seus clientes países como Austrália, Japão, Coréia, Rússia e… Brasil.
5) Ou ainda a HiTechExport, que edita e revisa notícias para publicações nos EUA, França e Inglaterra.

Para se ter uma idéia, o interesse pela mão-de-obra indiana e chinesa no jornalismo cresce tanto que a Associação de Jornalistas da Ásia foi obrigada a criar uma seção no site somente sobre o assunto.
Vale lembrar que o offshoring é comum em empresas de tecnologia da informação e ensino à distância nos EUA e no Reino Unido, que contratatam programadores e professores na Índia.
A IBM, por exemplo, deve realizar até o final deste ano cortes de funcionários nos EUA. Irá buscar empregados na Índia e na China, que podem trabalhar de forma online e com salários mais baixos [o Brasil, mais uma vez, está de fora dessa]. É a redução de custo do capital humano. Faz parte do jogo.
Pois é. Mas em relação ao “offshoring journalism”, será que somos atraentes o suficiente para chamar o interesse de empresas de mídia de fora? Nossa mão-de-obra de jornalistas é atraente? Seria um alento para diversos jornalistas brasileiros desempregados. Um mercado se abre aqui.
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