
entrevista publicada em março de 2007
ENTREVISTA
Doses diárias de cultura, web, tecnologia e mídia

Cansado de lotar a caixa postal dos amigos com links interessantes que encontrava na Web, Tiago Dória, jornalista, webdesigner, e graduando em Gestão em Negócios em Informática, resolveu criar um blog para compartilhar informações sobre sua paixão: cultura, web, tecnologia e mídia. A idéia deu certo. Atualmente seu blog, patrocinado pelo IG, é um sucesso no segmento. Em entrevista ao Inova, Dória fala sobre sua rotina de trabalho, tecnologia e informação e dá dicas de como ganhar credibilidade na blogosfera.
Sara Schuabb
Quando e como surgiu a idéia de criar um blog?
Surgiu em 2003.Eu mandava muitos e-mails para meus amigos sobre as novidades que encontrava na Web. O blog surgiu, portanto, como um “diário de navegação” mesmo, com a idéia de compartilhar e registrar as coisas mais interessantes que encontrava pela Web. De certa forma, ele continua nessa dinâmica até hoje.
Por que escolheu falar sobre cultura web, tecnologia e mídia?
Escolhi falar sobre esses assuntos porque são o que tenho mais afinidade. Estou completando uma graduação na área de Gestão de Negócios em informática pela Fatec (Faculdade de Tecnologia de Estado de São Paulo), então, para mim, são assuntos do dia-a-dia. Aliás, para ser ter uma idéia do quanto me interesso por esses temas, era para ter feito a Fatec antes da faculdade de jornalismo.
Como esse assunto está sendo tratado no Brasil e na imprensa em geral?
O Brasil é um dos poucos países onde o jornalista pode escrever sobre tecnologia sem ter uma formação na área de exatas. Aí, surgem aqueles chavões e erros. Listo alguns: aposta-se em uma cobertura maniqueísta “Microsoft x google” e confunde-se termos, como “hacker” com “cracker”. O primeiro não está ligado a roubo de senhas, mas a conhecimento grande na área de computadores. O segundo sim está ligado a cybercrimes. Temos também um erro bem comum: associar software de código aberto à gratuidade. Necessariamente uma coisa não tem nada a ver com a outra. Existem softwares de código fechado gratuitos e vice-versa.
Como você se organiza para manter o blog; criou algum método de trabalho? Como se pauta?
Existe um método que sigo às vezes: procuro atualizar o blog na parte da manhã e a partir da meia-noite, quando muitos outros blogs e sites de jornais são atualizados com novos assuntos. Dificilmente me pauto, os assuntos surgem a medida que eu vou navegando na rede. Mas procuro me agendar em relação à cobertura de certos eventos.
Quem é seu público-alvo? Você utiliza alguma tática para atraí-lo? Qual é a média de acesso mensal?
Em sua maioria são blogueiros e pessoas que trabalham na área de informática e mídia. Um público jovem. Entre 20 e 35 anos. A tática é atualizar sempre e ter um conteúdo interessante e enfoques diferentes de outros sites. Por meio dos comentários e e-mails, percebo se um assunto está agradando ou não. Os comentários, e-mails e a repercussão em outros blogs são, de certa forma, uma bússola do meu blog. Ele tem em média 105 mil acessos por mês.
O blog pode ser usado para se falar de qualquer tema. Mas o que é preciso para ganhar visibilidade e se tornar uma referência de credibilidade na blogosfera?
Para ganhar credibilidade na Web, você deve seguir o mesmo caminho para ganhar confiança dos amigos. Ser transparente em suas ações e atento aos seus amigos: basta trocar a palavra “amigos” por “leitores”. É mais ou menos essa a relação no blog – uma conversa entre amigos. Ser generoso nas referências a outros sites, atualizar sempre e não usar uma linguagem muito formal também contam muito.
Muitos jornalistas vêem no blog uma saída para desabafar e assumir posições que jamais seriam aceitas por veículos grandes, seja por razões políticas ou empresariais. Você acredita que os blogs têm atraído leitores pelo fato de ser uma ferramenta de comunicação mais democrática, livre de censura e sem fins mercadológicos?
Acredito que sim, mas acho que também pesa a questão dos blogs deixarem o leitor mais próximo de quem está produzindo a informação. A questão da empatia e da linguagem informal e direta também conta muito. Você escreve uma opinião e o leitor vai lá, lê e se identifica. “Nossa! Eu também penso assim!”.
Parece que a revista é o veículo que está mais sendo afetado pelo surgimento da blogosfera. Qual é sua opinião sobre essa migração de público? Por que a revista?
As revistas estão sendo mais afetadas porque o seu principal produto sempre foi vender opinião e novos enfoques sobre assuntos já debatidos. Sem isso a revista não existe. De certa forma, as melhores opiniões e enfoques estão migrando para os blogs. Por que isso? Para você opinar e dar um enfoque diferente a um assunto é preciso ter liberdade para escrever; e os blogs de certa forma proporcionam isso.
Qual é o seu conselho para os jornalistas que sonham em criar um blog respeitado?
Jornalistas devem ter noção de que o seu nome ou o veículo em que trabalham podem não contar muito na blogosfera. Ele não vai começar totalmente do zero, mas em alguns aspectos talvez. Outra preocupação que deve ter é não tratar seu colega (outro blogueiro) como concorrente, mas sim como uma pessoa que pode enriquecer o seu trabalho. A blogosfera, antes de tudo, é uma comunidade.
Confira o blog:
http://z001.ig.com.br/ig/59/32/896736/blig/tiagodoria/
O INOVA é um boletim eletrônico quinzenal sobre tendências de mercado e novos rumos da comunicação na era de convergência tecnológica. Produzido por alunos do 8º semestre de jornalismo do IESB.
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